Myrna Silveira Brandão, de Berlim

 

A sorte está lançada para a conquista do prêmio máximo da Berlinale, que tem o Brasil na disputa depois de seis anos, quando “Tropa de elite”, de José Padilha ganhou o cobiçado troféu. “Praia do Futuro”, de Karim Aïnouz, foi mostrado nesta terça (11) numa prévia para a imprensa, que antecedeu a première de gala à noite.

 

A sessão tinha um bom público. Aïnouz tem muita ligação com Berlim, onde mora desde 2009, e a cada dois meses vai ao Brasil, onde ministra um laboratório de roteiros em Fortaleza. Além disso, vale lembrar que Wagner Moura, protagonista de “Tropa de elite”, também estrela “Praia do Futuro”.

 

O filme conta a história de Donato (Moura) que é um salva-vidas na Praia do Futuro, em Fortaleza. Ayrton (Jesuíta Barbosa) é um menino que sonha com motos e super-heróis e admira a coragem do irmão mais velho em se jogar nas ondas para salvar desconhecidos. Quando falha pela primeira vez em resgatar uma vida no mar, Donato acaba conhecendo Konrad (Clemens Schick) um alemão piloto de moto velocidade, amigo da vítima. Donato parte com Konrad para Berlim e desaparece, deixando o irmão mais novo para trás.

 

Anos depois, Ayrton, já adolescente, se aventura em busca de Donato para buscar aquele que considerava seu herói.

 

Aïnouz começou a trabalhar no roteiro, escrito em parceria com Felipe Bragança, logo após o término da série de TV “Alice”, (2008), desenvolvida para a HBO.

 

Previsto para estrear nos cinemas brasileiros em 1º de maio, o filme tem grande parte das sequências, cerca de 70%, rodada em Berlim e Hamburgo.

 

O elenco tem um ótimo desempenho, não só Moura como o destemido personagem, mas também Barbosa (melhor ator no Festival do Rio por “Tatuagem”) e Schick (ator alemão de teatro e cinema).

 

Após a projeção, acompanhado dos três atores, Karim chegou sob aplausos para a coletiva com a imprensa. As perguntas giraram em torno da origem do filme, do elenco e da comparação de
“Praia do Futuro” com outros filmes do diretor.

 

Karim disse que uma das coisas importantes no filme e que bate muito com que ele pensa, é a questão do ser humano.

 

“Eu gosto de gente e costumo mostrar isso em meus filmes”, ressaltou.

 

Ao falar sobre sua preparação para interpretar o personagem principal, Moura disse que foi uma loucura. “Sendo baiano, eu precisava expressar no filme a forte cultura do cearense”, resumiu  o ator.

 

Desde sábado, todos os ingressos para as sessões de público aqui na Berlinale estam  esgotados

 

 

ENTREVISTA

 

Antes da estreia, Aïnouz conversou com o Laboratório Pop sobre o filme, sua expectativa com os resultados que terá aqui e o que representa participar da mostra oficial.

 

“É uma alegria imensa representar o Brasil na Berlinale, uma das mais importantes vitrines do cinema mundial.  Além de ser a coroação de um projeto no qual venho trabalhando há muito tempo, o festival dá uma visibilidade muito grande ao filme. É uma espécie de selo de qualidade. O fato de o filme estrear em Berlim, onde parte da história se passa, também é muito bacana. O longa é, de certa forma, um presente para uma cidade que me enche de inspiração.  Fico honrado também por estar ao lado de cineastas tão talentosos que admiro, como o Alain Resnais, por exemplo”, ressaltou.

 

Acostumado numa filmografia ancorada em dramas intimistas femininos (“O céu de Suely”, “O abismo prateado”), desta vez Aïnouz mudou o tom se voltando para o universo masculino.

 

“Meu cinema se faz mais de personagens do que de dramas e queria abordar um aspecto importante da minha geração na faixa dos 40 anos. A gente vive com muitos medos, de envelhecer, de ficar sozinho, de perder o emprego e por aí vai. Eu quis fazer um filme sobre o medo e seu reverso, a coragem”, contou o diretor acrescentando que assim como queria falar sobre homens e sobre irmãos, queria falar também sobre super-heróis.

 

“No filme, Jesuíta se cria achando que o irmão salva-vidas é um herói. Há um mito da força, da virilidade, mas eu queria justamente mostrar o momento em que o super-herói se fragiliza”, afirma explicando que o filme precisaria ter sido feito fora do Brasil.

 

O personagem vai embora para outro lugar e começa nova vida. Além disso, foi uma decisão boa, é a primeira coprodução oficial entre Brasil e Alemanha, um cinema voltado para o mundo”, atesta o diretor, que já esteve em vários festivais internacionais, inclusive no Sundance onde Madame Satã teve um enorme sucesso. Ele acha difícil prever qual será a resposta para Praia do Futuro em Berlim, mas está bem otimista.

 

“Embora seja  difícil arriscar uma previsão, acredito muito no potencial do filme. Acho que ele  irá agradar ao público alemão, não apenas por ter a cidade de Berlim como cenário, mas também por se tratar de uma história universal”, afirmou concordando que as locações na cidade podem ajudar também na receptividade.

 

“O fato de o filme ser uma coprodução com a Alemanha não influenciou diretamente na decisão dos selecionadores da competição, mas não podemos negar que seja o ambiente mais potente para o filme dentre os três festivais internacionais mais importantes do mundo.  É como se estivesse sendo dado de volta para a cidade”, disse resumindo uma definição para o filme.

 

“É uma história sobre coragem, risco, viagem, aventura e liberdade. São personagens que não têm medo de largar tudo para começar a vida de novo. São destemidos, velozes, querem pegar para si tudo o que o mundo tem a oferecer”, afirmou.