Myrna Silveira Brandão

François Ozon retorna ao Festival de Berlim, onde já esteve algumas vezes, inclusive quando seu “Angel” concorreu ao Urso de Ouro em 2007 e foi o filme de encerramento. Seu novo trabalho, “Grâce à Dieu”, estreia nesta sexta (8) na mostra oficial fora de competição nesta 69ª edição da Berlinale.

O filme – que traz nos papéis principais, Melvil Poupaud, Denis Ménochet e Swann Arlaud – aborda o caso real do padre Bernard Preynat acusado em 2016 de ter abusado sexualmente de mais de 70 jovens escoteiros entre 1986 e 1991.

O cardeal Philippe Barbarin, arcebispo de Lyon, está sendo julgado por não ter denunciado os crimes.

A história segue Alexandre, um homem de 40 anos, que mora em Lyon com sua esposa e filhos. Um dia, descobre por acaso que o padre que abusou dele na infância ainda está trabalhando com crianças. Ele une forças com François e Emmanuel, duas outras vítimas do padre, para “acabar com o fardo do silêncio” em torno da provação que passaram.

Na coletiva com a imprensa que antecede à sessão de gala, o diretor disse que “Grâce à Dieu” é contado do ponto de vista das vitimas.

“O filme é um retrato desses homens que foram abusados, como eles viviam com os seus traumas, como decidiram falar e quais as repercussões familiares e sociais para suas vidas”, ressalta Ozon afirmando que não inventou nada sobre o que aconteceu.

O filme é centrado nas vítimas e na luta que empreenderam para “libertar a palavra” e realmente não revela nada que já não seja conhecido pela mídia ou não tenha sido dito nas audiências do julgamento de Barbarin.

Ozon contou que inicialmente tinha intenção de fazer um filme sobre a fragilidade masculina. Quando soube do fato, pensou em fazer uma peça, depois um documentário para afinal se decidir pela ficção. Abalado pelos depoimentos das vítimas aproximou-se delas para aprofundar o assunto.

Quase como um documentário, o diretor retrata os fatos, desde a abordagem empreendida por Alexandre em 2014 perto da diocese de Lyon até a criação da associação La Parole Libérée e sua decisão de levar o caso à praça pública.

“Grâce à Dieux” é um dos trabalhos mais ousados e politizados do realizador francês de obras como “8 Mulheres” (2002), “Dentro de Casa” (2112), “Frantz” (2016) e O Amante Duplo (2017).