RODRIGO FONSECA
Dividindo-se entre quatro novos projetos de longas, incluindo a parte dois do malfadado “Fast X” (2023), Mark Sinclair Vincent, celebrizado como Vin Diesel, vai tomar a “Tela Quente” da Globo de assalto, esta noite, com “Velozes & Furiosos 9” (2021), que abriu sua carreira pelo mundo no Festival de Cannes, em projeção especial. Paralelamente à transmissão pelo Plim Plim de suas aventuras no papel do ladrão de carros Dominic Toretto, o astro de 57 anos brilha na Netflix com uma joia, baseada em HQs, que não foi devidamente valorizada ao ser exibida em circuito comercial: “Bloodshot” (2020). Idealizado para ser um fenômeno dos filmes B, qual é nos quadrinhos, o herói militar que regressa da morte com a ajuda de nanotecnologia esbarrou na pandemia. Foi lançado às vésperas da covid-19 se espalhar e teve de sair de circuito com uma receita de US$ 39 milhões, sem poder dar conta do que gastou para sair do papel: US$ 45 milhões. O Tempo agora lhe faz justiça.
Expert em efeitos visuais, com games derivados de “Star Wars” em seu currículo, o diretor estreante em longas-metragens Dave Wilson faz uma mistura de tudo e mais pouco na tensa narrativa de “Bloodshot”. Sua trama faz jus à adrenalina das revistas quadrinizadas do vigilante lançado pela editora Valiant, em 1992.
Numa direção precisa, que a Netflix aplaudiu, Wilson nos dá um thriller formalmente requintado e dramaturgicamente potente, em seu diálogo com as histórias ilustradas criadas por Kevin VanHook, Don Perlin e Bob Layton, com um formato à moda “Rambo”. Diesel dá à figura do soldado da fortuna Ray Garrison uma fragilidade existencial que assegura tridimensionalidade ao personagem central de “Bloodshot”. Há uma frase, “Não se precisa do passado para viver o futuro”, que serve como uma bússola para o longa de Wilson: em seu roteiro, tudo o que entendemos como “ontem”, como o antecedente de Garrison, cai por terra uma vez que ele descobre ter tido suas memórias alteradas pelo cientista que salvou seu corpo da Morte: Dr. Emil Harting, encarnado com uma maestria contagiante por Guy Pearce.
Com ecos de “Soldado Universal” (1992), a saga de Garrison começa em uma operação militar de sucesso, na qual ele demonstra suas virtudes guerreiras. Pouco depois, nos braços de sua namorada, ele sofre uma emboscada pelas mãos de um criminoso e é assassinado, sendo revivido a partir de uma experiência que injeta nanorrobôs em forma de insetos em seu organismo. Essas máquinas diminutas dão a ele uma força sobre-humana, ampliam sua velocidade e garantem uma cura instantânea de seus ferimentos, o que entra em cena, logo após sua ressureição, numa cruzada de vingança contra o homem que o matou.
Ciente de ter sido ludibriado, Garrison parte para dar o troco, numa ciranda de viradas que a direção de Wilson administra com competência, vitaminando-as com uma luta em um elevador com fôlego para entrar para a história do cinema de ação. Na versão brasileira, Jorge Lucas dubla Diesel.