Director Etienne Comar poses for the photographers during a photo call for the film 'Django' at the 2017 Berlinale Film Festival in Berlin, Germany, Thursday, Feb. 9, 2017. (AP Photo/Michael Sohn)

Myrna Silveira Brandão, especial para o LABORATÓRIO POP, de Berlim

 

O rigoroso frio que assola a Europa,não desmotivou em nada a multidão que lota a cidade de Berlim para acompanhar e curtir um dos festivais de cinema mais famosos do mundo – a Berlinale, como é conhecida, que começou nesta quinta-feira (9) com a première mundial de “Django”, do francês Etienne Comar. O longa também está na disputa pelo Urso de Ouro, cujo júri será presidido pelo cineasta Paul Verhoegen. O filme é sobre o lendário guitarrista Django Reinhart e focado especificamente na sua fuga da Paris ocupada, em 1943, para escapar da política de extermínio levada a cabo pelo regime nazista.

É o primeiro trabalho enquanto realizador de Comar. Nascido em Liberchies, na Bélgica em 1910, no seio de uma família cigana belga, Reinhardt mudou-se com os pais para Paris na infância. Crescendo rodeado de muitos músicos de sua comunidade, cedo começou a tocar diversos instrumentos, como o banjo, o violino e a guitarra. Seria esta, porém, que o tornaria mundialmente famoso.

Ainda adolescente, o seu virtuosismo atraía músicos do outro lado do Canal da Mancha, curiosos por descobrir o prodígio. Contudo – mais do que um drama sobre uma um ícone do jazz – o filme é uma historia sobre responsabilidades civis de artistas em tempos difíceis. Não há dúvida que sua escolha para abrir o festival tem claramente um link com o viés político atual, que é uma das características mais marcantes da Berlinale.

Reda Kateb protagoniza o guitarrista , ao lado de Cecile de France, Alex Brendemuehl e Ulrich Brandhoff. O roteiro é de Comar e Alexis Salatko. Dieter Kosslick, diretor da Berlinale, diz que o filme conta, de maneira convincente, um capítulo da vida movimentada de Django e sua luta pela sobrevivência.

“A ameaça constante, a fuga e as atrocidades contra sua família não foram capazes de impedir que ele continuasse a tocar”, destaca, na coletiva após a prévia para a imprensa que antecede à sessão de gala,

Comar disse que ele e seu pai amavam Reinhardt e que seu desejo era fazer o retrato de um músico atormentado vivendo um momento histórico particularmente complicado.

“Quando eu pesquisei a vida dele, eu descobri exatamente o tema que eu queria explorar: qual deve ser o desempenho de um artista em tempos de extrema dificuldade” explicou, lembrando que Reinhardt foi uma figura significativa para inúmeros músicos ao longo dos tempos.

“Ele teve uma grande importância para artistas em todo o mundo. Além de ter inventado os solos de guitarra, influenciou os guitarristas em todo o tipo de música desde o rock até o jazz. Até Jimi Hendrix homenageou Reinhardt, o citando em seu album Band of Gypsys”, ressaltou.

Kateb que também é meio cigano, falou como foi sentir essa história mais de perto vivendo o personagem principal. “Foi bastante interessante fazer um filme que é o retrato de uma família de refugiados com um grande artista em seu núcleo”, afirmou.

Para Comar, ter seu filme abrindo a Berlinale tem também um sentido que vai de encontro à forma como realizou “Django”.

“Dieter (Kosslick) entendeu que “Django” é uma história sobre artistas vivendo em tempos turbulentos, muito mais do que um filme que trata da guerra. Eu estou honrado que ele tenha escolhido o filme para abrir o festival e o tenha colocado em competição”, concluiu o cineasta, que inicia com brilhantismo sua carreira na direção de filmes.