RODRIGO FONSECA
Lançado no mesmo fim de semana em que John Woo voltou às telas com o estonteante “O Silêncio da Vingança” (“Silent Night”), o eletrizante “O Sequestro do Voo 375” é a realização de um sonho para todo fã brasileiro de filmes de ação. Fãs que, há muito, sonham com um exercício nacional (muito bem feito) pelas veredas do gênero, sem amarras (culpadas) com a sociologia. Existe, sim, um forte tônus de crítica social e política no filme de Marcus Baldini (de “Bruna Surfistinha”), que só vem confirmar a farta maturidade (e destreza) dramatúrgica de Lusa Silvestre e Mikael de Albuquerque para a fina escrita de roteiros – aqui depurada sob supervisão de Laura Malin e Rafael Leal, segundo o Internet Movie Database (IMDB). É um script que detona as CNTPs da plateia e faz unhas serem roídas com ansiedade. Uma trilha sonora digna de Jerry Goldsmith, composta pelo Mozart das nossas telonas, chamado Plínio Profeta, amplia a aflição causada pela precisa direção de Baldini, com base em fatos reais. É o filme mais maduro dele e um dos mais ousados longas feitos neste país nestes tempos de aparelhos ideológicos em fase de patrulha.
Nada é mais patrulhado no cinema do que um filme de ação, sobretudo se for feito na América Latina. Mas Baldini peitou o patrulhamento e emplacou um espetáculo com ecos de “Passageiro 57” (1992), o clássico da “Tela Quente” estrelado por Wesley Snipes. O teor de claustrofobia de uma narrativa ambientada em um avião lembra ainda o John McTiernan de “Duro de Matar” (1988). Fora isso, o piloto encarnado por Danilo Grangheia é um herói humanizado, à la Jack Lemmon, como raramente se vê em tramas rodadas nesta pátria. Cada gesto dele carrega retidão. Mas é uma retidão sem tiques épicos. É um herói do realismo, um Tommy Lee Jones destes trópicos.
Virtuoso em várias frentes, “O Sequestro do Voo 375” recria o rapto de uma aeronave da Vasp, em 1988, em que um motorista de trator desempregado, Nonato, almejava jogar o jato tripulado sobre a casa do então presidente José Sarney. O papel ficou com Jorge Paz, que salva o personagem da vilania e faz dele um suicidado pela sociedade – afinal, se há um “vilão” ali, esse ente é Sarney.
Vale destaque a segura atuação de Roberta Gualda – como a operadora de voo que negocia com Nonato – e a firme interpretação de Juliana Alves como comissária de bordo. As duas brilham em um elenco equilibrado, no qual Grangheia é um sol. É um filme na fronteira entre os cults com Bruce Willis e a tradição do Cinema Catástrofe da Hollywood moderna, como “Aeroporto” (1970), de George Seaton e Henry Hathaway.