Rodrigo Fonseca
Convocado para estrelar o novo longa de Noah Baunbach e a nova trama dos irmãos Safdie, Adam Sandler conseguiu furar um dos mais rígidos bloqueios para grifes pop com perfil pipoca: terá um filme novo exibido no Festival de Berlim. A lista da Berlinale Special de 2024, revelada na manhã desta quarta, inclui o esperado “Spaceman”, de Johan Renck. O evento alemão, agendado de 15 a 25 de fevereiro já conta com a presença do astro de 57 anos. Dublado no Brasil por Alexandre Moreno, Sandler vive Jakub Procházka, tcheco que se tornou o primeiro astronauta de seu país.
Berlim já está repleta de produções brasileiras. Hoje foram anunciados “Quebrante”, de Janaína Wagner, e “Lapso”, de Caroline Cabalcanti, além de “Betânia”, de Marcelo Botta. Ainda não saíram os concorrentes ao Urso de Ouro, o que pode nos garantir um reforço no evento, que terá a atriz Lupita Nyong’o na presidência de seu júri. A grande expectativa da maratona germânica é a convocação de Sandler.
Existem muitos pontos de virada no caminho do ator, encarado como o mais rentável nome da comédia americana no audiovisual desde 1998, ano do inesperado fenômeno “O Rei da Água”. Um deles envolve uma láurea capaz de jogar Sandler para outro patamar de prestígio na indústria: o Prêmio Anual do Sindicato dos Atrizes e Atores de Hollywood. Ao selecionar as melhores interpretações de 2022 pra cá, o Screen Actors Guild indicou o midas do riso para concorrer à sua estátua pelo bom desempenho dele em “Arreemesando Alto” (“Hustle”, 2022), de Jeremiah Zagar. Ele não levou, mas recebeu uma consagração à altura de seu prestígio. É um drama esportivo com toques de humor (de leve) hoje em cartaz na… Netflix.
Foi um pedido de desculpas para o fato de o comediante em diante não ter sido laureado (em tudo), há quatro anos, por sua atuação em “Joias Brutas”. Sua indicação recente ao SAG coroa um dos desempenhos mais tocantes de sua carreira em suas raras (mas sempre encantadoras) incursões por terrenos dramáticos, galvanizado por aqui na dublagem do já citado Alexandre Moreno. O chão da dor já esteve sob os pés de Sandler algumas vezes, em títulos cercados de culto como “Embriagado de Amor” (que rendeu a seu realizador, Paul Thomas Anderson, uma láurea de Melhor Direção em Cannes, em 2002), “Reine Sobre Mim” (2007) e “Homens, Mulheres e Filhos”, gestado sob a grife de Jason Reitman em 2014.
Produtor de peso, Sandler trouxe o diretor de “We The Animals” (Prêmio Revelação em Sundance, em 2018), pra comandar a saga de resiliência de um caça-talentos do basquete, Stanley Sugerman (papel do astro), que roda o mundo em busca de um ás das quadras até descobrir um gigante espanhol, Bo Cruz (vivido por Juancho Hernangomez). Não há cesta que ele não acerte, nem drible que ele perca. O problema está no fato de Bo não domar sua fúria.
Sandler anda em rota de translação. O universo só ganha com isso.