Rodrigo Fonseca
Ethan Hunt, expert em disfarces com manha em espionagem capaz de desafiar 007, anda soltando rojão pela vitória de “Efeito Fallout”, o mais recente tomo da franquia “Missão: Impossível”, na festa do Critics’ Choice Award, no último domingo. Saiu dela com o troféu de Melhor Filme de Ação de 2018.
Chega a dar vertigem (mas daquelas contagiantes) o conjunto ininterrupto de sequências de perseguição, tiroteios e lutas de “Efeito Fallout”, sexto e mais eletrizante episódio da franquia decalcada do seriado de TV “Missão: impossível”. Ela chegou aos cinemas em 1996, e soma, hoje, uma bilheteria de US$ 2,8 bilhões. A cada virada de roteiro deste novo filme brota uma sequência de ação mais engenhosa do que a outra, seja a briga em um banheiro (que lembra “True lies”) ou um antológico racha de helicópteros (que evoca “Risco total”). Nem parece que a direção foi feita pelo “palavroso” Christopher McQuarrie (ganhador do Oscar pelo roteiro de “Os Suspeitos”), que faz aqui algo tão (ou mais) exuberante do que o arranjo elétrico feito pelo mestre Brian De Palma no “Missão” original, lançado há 22 anos. Desde então, nenhuma das continuações das peripécias do agente Ethan Hunt (Tom Cruise, mais inspirado do que seu habitual) desfruta do acabamento visual e do ritmo taquicárdico de montagem que “Mission: Impossible – Fallout” esbanja, em meio a viagens pelo mundo e intrigas de espionagem. É o filme definitivo de Cruise como produtor e o apogeu de Hunt como herói: mais maduro, mais humanizado, mais implacável. A tarefa dele aqui é corrigir um erro próprio: para proteger sua equipe, ele não foi capaz de reaver um carregamento de plutônio que será usado em um atentado terrorista para repaginar a geopolítica mundial. Ao correr atrás do material radiativo (e do atraso), Hunt terá que engolir um operativo da CIA mais bruto, porém mais sortudo do que ele: Walker (Henry Cavill, impecável). Numa trama de gato e rato construída como um fliperama, as leis da física se tornam um espetáculo à parte, contorcidas neste thriller sobre o senso de dever.