É uma tradição na lendária Cinemateca Francesa, em Paris: encerrar o ano com iguarias pop. Já foi com Stallone Cobra (1986) e agora com A Bruma Assassina (The Fog, 1980), de John Carpenter.
A projeção é uma forma de celebrar a obra do diretor que, em 2019, ganhou o troféu Carroça de Ouro da Quinzena de Cineastas do Festival de Cannes, pelo conjunto de seus cults – entre eles Halloween (1978), O Enigma do Outro Mundo (1982) e Eles Vivem (1988).
O site da Cinemateca é austero ao se referir à potência estética de A Bruma Assassina, que custou US$ 1,1 milhão e faturou 20 vezes mais:
“Inspirado por uma visita a Stonehenge, Carpenter evoca Edgar Allan Poe e Lovecraft em um tributo aos clássicos do terror, criando angústia por meio do que está fora da tela. Um filme atmosférico com uma atmosfera sufocante, acima de tudo, uma crítica mordaz à sociedade americana, onde fantasmas e monstros espreitam nas sombras”.
Na trama escrita pelo diretor e Debra Hill, as comemorações do centenário da fundação de uma pequena cidade californiana são prejudicadas pela revelação de um segredo ligado aos fundadores, que é descoberto quando um espesso nevoeiro encobre o local.
Com a chegada dessa massa de ar, várias pessoas começam a morrer. Adrienne Barbeau e Jamie Lee Curtis estão no elenco.
“O cinema de horror é político, crítico por natureza, o que exige de seus realizadores a necessidade de se trabalhar de forma independente da vontade dos estúdios de Hollywood”, diz Carpenter em uma entrevista à Associação de Críticos do Rio de Janeiro para a o livro O Medo É Só O Começo. “No assombro, encontrei um espaço para criar.”
Hoje, John Carpenter vive das trilhas sonoras que compõe e de direitos autorais de seus roteiros, além de ter seu repertório sempre reprisado em TVs ou apresentado em festivais de classe AA, como Cannes. Com a fama de ter um temperamento de indigesto para o padrão das grandes corporações de Hollywood, ele acabou perdendo espaço como diretor depois do fracasso comercial de Fantasmas de Marte (2001).
Seu último sucesso de bilheteria, Vampiro$, já contabiliza 20 anos. Porém, seus longas de juventude como O enigma do outro mundo (1982) e Assalto à 13ª DP (1976) são citados como referência por realizadores do mundo todo, de Quentin Tarantino a Kleber Mendonça Filho.
Há uns três anos, as versões em quadrinhos de dois de seus maiores êxitos de público, Os aventureiros do bairro proibido (1986) e Fuga de Nova York (1981) se tornaram best-sellers nos Estados Unidos, desafiando a hegemonia dos heróis da DC e da Marvel na venda de HQs.
Vale lembrar que toda hora surge um novo remake de seus clássicos. “Estou velho, cansado de trabalhar, mais interessado em me distrair e em receber os cheques gordos que me pagam para refazer minhas ideias do passado”, disse ele ao The New York Times no início do ano, antes de ser convidado pelo festival de Veneza. “Não é mau envelhecer com as pessoas te pagando para usar o seu nome em versões requentadas de filmes que me deram muito trabalho no passado.”