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Willie Nelson encarna Tom Waits para desafiar o tempo

A lenda vai para lugares inimagináveis em discaço com Beck, Neil Young e Flaming Lips

por Robert Halfoun

Aos 91 anos, Willie Nelson ressurge, faz todo sentido, refletindo sobre o tempo, a mortalidade e a resiliência. E nos dá uma aula de vida.

A produção de Last Leaf on The Tree (“última folha na árvore) é do seu filho, Micah Nelson, o que dá ainda mais significado para a coisa toda.

Pai e filho, aqui, não olham para o passado, mas para o futuro, revelando um lado do lendário nome da música country americana que se distancia das composições autorais que o consagraram para abraçar uma seleção de covers cuidadosamente escolhidos, incluindo nomes como Tom Waits, Beck, Neil Young e Nina Simone.

É um trabalho introspectivo, no qual a voz envelhecida de Willie se torna ainda mais poderosa, carregada de melancolia e sabedoria. Sabe o que o Rick Rubin fez com Johnny Cash? É, de certa forma, o que acontece aqui.

A faixa-título, uma interpretação de “Last Leaf”, de Tom Waits, sintetiza o espírito do álbum. Willie canta sobre ser a última folha da árvore, resistindo à passagem do tempo, e o faz com uma entrega que só um artista de sua trajetória poderia oferecer. A instrumentação minimalista – marcada por violões suaves, pedal steel e sopros sutis – reforça o tom íntimo e contemplativo.

E tome mais ousadia, considerando de quem estamos falando, como a releitura de “Do You Realize??”, do The Flaming Lips, que ganha uma roupagem country inesperada, mas incrivelmente natural.
“The Color of Sound”, a única faixa original do álbum, composta por Willie e Micah, adiciona uma camada pessoal ao projeto, misturando lirismo poético e arranjos experimentais que mostram a disposição de Nelson para seguir se reinventando.

O álbum não é para quem busca o Willie Nelson mais energético dos tempos de On the Road Again. Aqui, ele soa sereno, quase meditativo, mas nunca resignado. Sua voz, mesmo marcada pelo tempo, continua sendo o fio condutor de histórias que ressoam profundamente. Last Leaf on the Tree é um testamento à sua longevidade, não apenas como músico, mas como contador de histórias e guardião da tradição americana.

Estamos falando de um álbum raro para ouvir de cabo a rabo, na qual texturas, arranjos e canções lindas nos fazem, realmente, desafiar o tempo.