Falar em maturidade muitas vezes soa clichê. Mas a ideia é tão adequada quando se trata do momento da mineira Roberta Campos que é melhor não evitar.Ela acaba de lançar o breve (nove canções em 24 minutos) mais preciso Coisas de Viver, o seu sexto álbum de estúdio.
Olha que lindo: “Tirei os meus sapatos, entrei na minha vida ; Me vi com um riacho descendo rio abaixo ; Refiz minhas memórias, lustrei minhas memórias ; Finquei a minha história no meio da avenida”, canta ela em “Peito Aberto”, a música que abre o disco e dá um belo sinal do que bem pela frente.
Estamos falando de uma obra ao mesmo tempo essencial e sofisticada. Isso porque a Roberta opta por uma abordagem minimalista que revela a tal maturidade artística de forma notável. Sem excessos, ela consolida sua identidade musical, dando um passo adiante.
Coisas de Viver, sem dúvida, é melhor do que tudo o que veio antes.
A carreira da Roberta Campos começou a ganhar projeção na década de 2010, quando, de forma independente, lançou o álbum Varrendo a Lua (2010). Aos poucos, seu estilo com a mistura singular de folk, MPB e indie pop foi conquistando admiradores, tocados também por uma sensibilidade lírica que logo se tornaria sua assinatura.
Vieram parcerias importantes (com Nando Reis, por exemplo), sempre preservando sua autenticidade artística.
Coisas de Viver é produzido em parceria com Alexandre Fontanetti e nos envolve usando a simplicidade para alcançar um impacto profundo. As faixas desabrocham com delicadeza, mas também com firmeza, explorando timbres e arranjos que, embora concisos, são ricamente detalhados.
Um ótimo exemplo disso são as guitarras que respondem e fazem a cama para a melodia em “Peito Aberto” e a suave participação de cordas em “Coisas de Viver”.
Como se vê, cada escolha instrumental parece servir a um propósito claro, sem excessos, como se Roberta tivesse desbastado todo o supérfluo para alcançar a essência do seu som.
A voz e o violão folk compõem a ideia central do disco, mas o ouvinte atento perceberá a sutileza dos elementos adicionais. É o tipo de álbum vale a pena ser ouvido com cuidado para descobrir as nuances que fazem toda diferença no resultado final.
Sobre as composições, Coisas de Viver traduz sentimentos universais em versos pessoais, com letras que refletem medos, descobertas e prazeres cotidianos. E como é bom poder perceber tudo isso de forma descomplicada, em português.
Roberta propõe uma entrega sincera, que se distancia da grandiloquência para apostar na proximidade e na empatia.
No cenário indie brasileiro, Roberta Campos se destaca por sua capacidade de transitar entre o mainstream e o underground com naturalidade. Embora tenha alcançado reconhecimento popular, nunca perdeu a conexão com suas raízes independentes.
Coisas de Viver é mais um testemunho de sua relevância, reafirmando sua habilidade de fazer do menos o máximo. Um disco que, apesar de sua brevidade, se mostra completo, oferecendo uma experiência que toca fundo e permanece ecoando mesmo depois que a última faixa termina.