Hot, London Burning

LONDON BURNING: 20 melhores álbuns de 2025

Em dose dupla, Ethel Cain é a grande vencedora do melhor disco do ano

Por Luciano Vianna

Ethel Cain — Perverts / Willoughby Tucker, I’ll Always Love You

2025 foi um ano muito prolífico para Ethel Cain.  Perverts / Willoughby Tucker, I’ll Always Love You foram lancados com diferença de poucos meses e servem como obras complementares para  aprofundar seu universo narrativo de maneira quase brutal. Hayden Anhedönia mantém o ímpeto cinematográfico de Preacher’s Daughter, seu disco de 2021,  mas agora abandona qualquer pretensão de linearidade: a história se fragmenta em memórias, vozes internas, ecos de trauma e sensações que mais parecem alucinações religiosas. O disco é dividido entre a devassidão e a devoção, entre corpos feridos e espiritualidade distorcida, entre desejo e punição.

Musicalmente, Ethel Cain expande seu leque: drones etéreos que lembram ambient litúrgico, guitarras arrastadas e quase fantasmagóricas, sintetizadores analógicos que vibram como luzes de neon decadentes, além de um uso de silêncio que transforma ausência em presença. É um álbum que não busca agradar — busca absorver. As canções não começam nem terminam; parecem emergir de um sonho febril e desaparecer como fumaça.

As letras, sempre confessionais, colocam em conflito identidade, sexualidade, família, culpa e transcendência. O personagem Willoughby Tucker surge como símbolo da devoção impossível, da promessa quebrada, do amor que existe apenas como ferida. A dualidade entre Perverts e I’ll Always Love You funciona como espelho partido: de um lado, a exploração da carne; de outro, a espiritualização do que resta dela.

É o trabalho mais radical de Ethel Cain — talvez o mais exigente, certamente o mais profundo. Um álbum que provoca o ouvinte , e que confirma Hayden como uma das arquitetas narrativas mais importantes da música contemporânea.

Geese — Getting Killed

Getting Killed captura o Geese na transição entre ansiedade juvenil e maturidade artística plena. O disco mergulha em paranoia urbana, em crises de identidade  e em uma espécie de humor nervoso que atravessa toda a composição. O grupo abandona de vez o rótulo de “pós-punk de Nova York” e abraça uma sonoridade mais imprevisível: guitarras quicando em padrões irregulares, ritmos que mudam de direção sem aviso, sintetizadores que surgem como interferências, não como melodias tradicionais, soando as vezes quase como um Radiohead americano.

As letras apresentam temas de perda de controle, medo difuso, autoquestionamento e uma espécie de humor autodepreciativo que torna o disco estranho e viciante. Nada é completamente sério, mas nada é totalmente piada. A produção, crua porém inventiva, dá ao álbum uma textura quase documental: um registro da mente de jovens tentando se localizar em uma cidade que nunca para — e nunca se importa.

Hayley Williams — Ego Death at a Bachelorette Party

Mais conhecida como a cantora do grupo poppunk Paramore, Hayley Williams entrega, em Ego Death at a Bachelorette Party, uma obra teatral que mistura vulnerabilidade emocional, crítica social e pop experimental. O título, por si só, já é uma narrativa: a despedida de solteira como palco para ansiedade, expectativas sociais, feminilidade performada e desilusões íntimas.

O disco incorpora elementos de R&B minimalista, art pop fragmentado, eletrônica delicada e momentos acústicos quase dolorosos de tão diretos. A produção é arejada, mas nunca leve — cada silêncio parece carregado de peso emocional. É um retrato de alguém atravessando o limiar entre quem foi e quem deveria ser, uma tensão que a artista traduz em melodias hesitantes e letras afiadas.

O  resultado é um disco sobre amadurecer sob os holofotes e soa completamente diferente do Paramore. Um trabalho poderoso, revelador e artisticamente ousado.

YUNGBLUD — Idols

Em Idols, YUNGBLUD reinventa sua identidade artística. O caos hiperativo que definiu sua fase inicial dá lugar a um pop alternativo mais sombrio e introspectivo, influenciado por britpop, industrial leve e melodias melancólicas. A histeria cede espaço a controle — porém sem perder intensidade.

As letras abordam o culto à celebridade, o desgaste de manter uma persona pública, a perda da espontaneidade e o terror de ser observado o tempo todo. O álbum soa como um pedido de ajuda escondido dentro de um espetáculo.

Musicalmente, o disco é mais sofisticado: arranjos enxutos, guitarras calculadas, refrões que não gritam, mas cortam fundo. Idols é YUNGBLUD finalmente soando como adulto — sem negar a teatralidade, mas refinando-a. Sem dúvida é o trabalho mais consistentes da sua carreira.

Benefits — Constant Noise

Constant Noise é um ataque frontal de palavras, raiva e distorção. O Benefits mistura spoken word inflamado com bases industriais e punk eletrônico, criando uma experiência que é menos musical e mais visceral. É como acompanhar um protesto que ganhou forma de álbum.

As letras abordam austeridade, desigualdade, violência estatal, precariedade, frustração — tudo com uma urgência quase insuportável. Não há sutileza, nem polidez: é um disco feito para incomodar, e nisso encontra sua força.

A produção abraça o feio, o cru, o violento. Cada faixa é uma sirene. O Benefits se consolidam, assim, como uma das vozes mais ferozes da música política britânica contemporânea.

Deafheaven — Lonely People With Power

Depois de lancarem um disco de shoegaze em 2023, o Deafheaven acelera sua metamorfose estética em Lonely People With Power. O disco abandona de vez o black metal tradicional e abraça um híbrido de shoegaze expansivo, post-rock emocional e atmosferas eletrônicas esparsas.

As guitarras soam como paredes líquidas de som; a bateria alterna entre explosões e pulsações hipnóticas; os vocais de George Clarke ganham clareza, variando entre agressão controlada e melodia delicada.

O tema central — a solidão de quem tem poder — aparece em imagens de controle, descontrole, isolamento, liderança falha e a sensação de que nenhuma conquista impede o vazio. É o disco mais melancólico e belo da banda desde Sunbather, mas muito mais maduro e introspectivo.

AFI — Silver Bleeds the Black Sun…

O AFI é conhecido por serem camaleões do rock. Nesse novo album eles trabalham numa releitura gótica e dramática neste álbum, que mistura gothic rock, pós-hardcore e atmosferas escuras. Silver Bleeds the Black Sun… traz a banda abraçando totalmente a estética decadente que sempre os rondou, mas agora com uma produção mais cinematográfica e sofisticada, numa grande homenagem aos Anos 80.

Davey Havok canta com uma intensidade quase ritualística, enquanto a banda constrói músicas que parecem dançar entre sombras. É um disco sobre fé quebrada, obsessão, juventude perdida e beleza na ruína. Um retorno poderoso — e emocionalmente denso.

Heartworms — Glutton for Punishment

O disco de estreia da Heartworms é uma obra pós-punk militarizada: ritmos rígidos, vocais falados, guitarras tensas e uma estética de vigilância e alerta.

As letras falam de disciplina, trauma, autocontrole e violência emocional. A produção cria um ambiente claustrofóbico, onde nada respira. É como ouvir uma mente tentando manter ordem enquanto tudo ameaça desmoronar.

A artista se consolida como uma voz singular — fria, elegante e assustadoramente precisa com destaque para a intensidade dos seus shows ao vivo.

Turnstile — NEVER ENOUGH

O Turnstile chega para substituir o Foo Fighters como a banfa de rock da familia mundial e entrega mais um álbum vibrante, cheio de luz, movimento e alegria. NEVER ENOUGH mistura hardcore melódico, funk alternativo, pop punk e grooves ensolarados. A energia é contagiante; cada música parece feita para o corpo, não apenas para os ouvidos.

A banda continua derrubando barreiras entre subculturas, trazendo cores e melodias para um gênero historicamente preso ao cinza. É um disco sobre liberdade, conexão e prazer.

Suede — Antidepressants

Quem diria que com mais de 3 décadas de vida, o  Suede ainda iria se mostrar relevante. A bamda inglesa abraça a melancolia madura com Antidepressants, um disco que parece observar o tempo com olhos cansados, mas ainda apaixonados. Brett Anderson canta como quem revisita antigas versões de si mesmo, enquanto a banda entrega arranjos que equilibram glamour triste e elegância britânica.

O álbum aborda envelhecimento, nostalgia, vazio emocional e a busca por significado em pequenas coisas. É delicado, lírico, doloroso — e lindíssimo.

FKA twigs — EUSEXUA

Em EUSEXUA, FKA twigs explora sexualidade, transcendência, performance e corpo com seu art-pop inconfundível. O disco mistura R&B futurista, club music desconstruída, vozes multilayerizadas e uma produção que parece tridimensional.

Bon Iver — SABLE, fABLE

O álbum duplo de Bon Iver é um mergulho emocional e mitológico que mistura folk distorcido, eletrônica espiritual e manipulações vocais futuristas. É Justin Vernon explorando lendas pessoais e coletivas, criando narrativas quase fantásticas sobre perda, reencontro e desorientação.

billy woods — GOLLIWOG

billy woods continua sua trajetória como um dos letristas mais complexos do rap contemporâneo. Em GOLLIWOG, ele confronta racismo estrutural, memória histórica, violência simbólica, invisibilidade e sobrevivência. Os beats são secos, tensos, minimalistas. As palavras, afiadas, doloridas e difíceis de engolir. É um álbum que exige atenção e reflexão — e que consolida woods como uma das mentes mais brilhantes da música contemporânea.

CMAT — EURO-COUNTRY

CMAT expande seu universo country-pop maximalista com humor, ironia e melodrama. EURO-COUNTRY é divertido, emotivo e inteligente, combinando narrativas pessoais com críticas sociais mascaradas por brilhos e exageros.

Clipse — Let God Sort Em Out

O retorno do Clipse é devastador. A dupla Pusha T e No Malice trocam farpas teológicas, confissões brutais e narrativas de sobrevivência em um disco pesado, elegante e moralmente complexo. As bases são luxuosas, mas sombrias; as letras, afiadas como navalhas. O álbum funciona como um debate entre pecar e redimir-se — e o resultado é um dos melhores discos de rap do ano.

Viagra Boys — viagr aboys

O Viagra Boys chega mais debochado, mais agressivo e mais deliciosamente caótico. O disco mistura pós-punk desgrenhado, humor ácido, crítica social disfarçada de piada e uma estética de colapso constante.

Oklou — choke enough

Oklou cria um universo aquoso em chove enough, misturando pop etéreo, ambient vaporoso e melodias frágeis. É um álbum íntimo, melancólico, quase espectral. A sensação é de ouvir lembranças escorrendo entre os dedos.

Caroline — Caroline 2

Minimalismo expansivo define o segundo álbum da Caroline. Violinos, percussões leves, vozes quase litúrgicas e arranjos que se constroem como arquitetura orgânica. É música lenta, paciente, profunda — uma experiência, não um produto. Um dos discos mais belos e únicos do ano.

Pulp — More

Jarvis Cocker retorna afiado, irônico, melancólico e surpreendentemente vulnerável. More é um disco sobre envelhecer, observar o mundo ruir com certo charme e tentar encontrar sentido em pequenos absurdos. O Pulp está maduro, mas não menos brilhante. Um retorno à altura da lenda.

Vera Fischer Era Clubber — Veras 1

O projeto de Niterói  entrega um synthpop pop-brasileiro debochado, divertido e cheio de personalidade. Veras 1 mistura humor, drama, club music e estética anos 2000 filtrada pelo caos digital contemporâneo. É um disco único, criativo e recheado de letras divertidas — um dos mais originais do país em 2025.