RODRIGO FONSECA
Ganhadora de dois Oscars, um por “Meninos não choram” (1999), outro por “Menina de ouro” (2004), Hilary Swank, aos 44 anos, chega nesta sexta-feira à Suíça para receber uma honraria que poucas estrelas veteranas do cinemão americano já chegaram perto de conquistar: ela é a homenageada do ano no Festival de Locarno. A homenagem a ela, na 72ª edição do evento, agendada de 7 a 17 de agosto, coroa um banho de loja pop numa maratona cinematográfica antes conhecida pelo espírito crítico de sua curadoria, voltada para cineastas autorais calcados na radicalidade. Diretora artística do evento, a curadora e produtora parisiense Lili Hinstin vê a carreira de Hilary como uma afirmação da força feminina longe das convenções do estrelato.
“A trajetória de Hilary é a tradução de sucesso do conceito de liberdade de escolhas no contexto indústria do cinema. Estamos diante de uma atriz que transgrediu todas as amarras normativas de beleza e de condução de carreira em Hollywood, tendo conquistado dois Oscars para si, apesar disso, por seu talento. É uma atriz que representa inconformismo em relação às regras do mercado, optando sempre por filmes que reverberam socialmente”, disse Lili.
Teve Brasil na briga pelo Leopardo de Ouro de Locarno no raiar do dia: na manhã deste 9 de Agosto, nosso concorrente no festival suíço, “A febre”, de Maya Da-Rin, revebeu três minutos de aplauso e gerou debates calorosos ao fim de sua sessão. Para uma projeção popular às 9h da matina… isso é muita coisa. Sua diretora já fez barulho no exterior antes, em 2010, com “Terras”. Agora, de volta à direção, ela retrata a realidade dos índios de Manaus, que vivem e trabalham fora de reservas, ao seguir a rotina de Justino (Regis Myrupu, cuja atuação tem uma retidão à la Toshiro Mifune). Viúvo, ele ganha a vida como vigia de um porto de cargas. Na trama de Maya, Justino entra em um estado febril no momento em que o bairro onde mora é assolado pela presença de um animal selvagem, descrito como um cachorro fora dos padrões dos cães do mato local. Mas o bicho que late mais forte é a burocracia dos departamentos de RH. Depois, o bicho mais feroz é um vigia cheio de preconceitos encarnado por Lourinelson Vladimir, numa atuação em estado de graça (como já é sua marca pessoal). O filme de Maya vai concorrer com diretores de prestígio como a dupla búlgara diretoras Mina Mileva e Vesela Kazakova (em concurso com “Cat in the wall”); os portugueses Pedro Costa (um popstar autoral, no páreo com “Vitalina Varela”) e João Nicolau (com “Technoboss”); e o japonês Kôji Fukada, que foi indicado ao evento com “Yokogao”, atração local deste fim de tarde.
À noite por aqui, a pedida, na Piazza Grande, é um “filme catástrofe” sobre o terror ligado ao fundamentalismo. Para conquistar a imprensa estrangeira com uma pedida mais popularesca, mas de dignidade, Lili Hinstin apostou no thriller germânico “7500”, com o ator americano Jospeh Gordon-Levitt no ápice de sua maturidade, dez anos depois de seu boom com “(500) dias com ela” (2009). O diretor Patrick Vollrath vem à fofa cidadezinha suíça nesta sexta para falar do clima de tensão que depura ao longo de 92 minutos dentro de uma cabine de um avião sequestrado por terroristas.