Myrna Silveira Brandão, de Nova York
“L’ Unconnu du Lac”, de Alain Guiraudie, foi o destaque nesta sexta-feira (20) nas prévias para a imprensa da 51ª edição do Festival de Nova York, evento conhecido por incluir em sua seleção títulos fora do convencional. O filme também será mostrado no Festival do Rio (26.09 a 10.10), que programou uma retrospectiva da obra do diretor francês.
Ainda pouco divulgado fora da França, Guiraudie se tornou mais conhecido em 2001, com “Ce Vieux Rêve qui Bouge” (“Este velho sonho que se movimenta”), seu longa de estreia sobre as condições dos homossexuais no meio operário.
Melhor diretor da Mostra Un Certain Regard no último Festival de Cannes, ele já é considerado uma voz inovadora no cinema europeu independente e volta a impressionar crítica e público com uma trama que inclui homossexualismo, sexo e crime.
“L’ Unconnu du Lac” segue um grupo de homens gays que se reúnem para se divertir às margens de um lago recluso. Franck, (Pierre de Ladonchamps), um jovem bonitão, frequenta o local, que é destinado ao nudismo masculino. Henri (Patrick d’ Assumpção) está interessado nele, mas Franck se apaixona por Michel (Christophe Paou). Tudo corre aparentemente sem problemas, até que um dia o aparecimento de um cadáver se torna uma ameaça para todos.
Guiraudie conta que escreveu o roteiro muito rapidamente e a história que queria contar era bem simples.
“Quis colocar o protagonista entre o amor e as questões morais que começam a surgir ao longo da trama”, explica em entrevista ao LABORATÓRIO POP, ressalvando que o filme não é especificamente sobre gays.
“Acho que é fundamentalmente uma história sobre homens. Eu pensei em rodar o filme em um ambiente heterossexual, mas não funcionou. O que acontece é que homens e mulheres são diferentes e o fato de que um homem está apaixonado por Michel os torna iguais, a homossexualidade funciona no nível da igualdade”, diz Guiraudie revelando que alguns personagens são inspirados na vida real.
“Franck é muito parecido com alguém que conheço bem. Henri também é inspirado numa pessoa real, com algumas modificações necessárias na personalidade do personagem, um cara meio desesperançado. Michel é fruto de minha imaginação e o criei pensando em Christophe (Paou) para interpretá-lo. Eu queria alguém que se parecesse com um surfista californiano e ele se encaixou perfeitamente no papel”, afirma, acrescentando que a escolha das locações teve a ver com sua vontade de fazer um filme ambientado na natureza.
“Eu já tinha um local específico em mente, mesmo antes de concluir o roteiro. Era uma área perto de um lago, um cenário com muitos elementos naturais, floresta, céu, água, terra, coisas que mexem com a emoção”, destacou , ressaltando que quando pensou em fazer o filme, estava interessado em falar de sentimentos.
“De um lado, eu queria mostrar a trivialidade e até mesmo o que alguns consideram a obscenidade do ato sexual em si e, ao mesmo tempo, as profundezas de um sentimento romântico”, complementa, explicando por que escolheu o viés misto de comédia e suspense para o filme.
“Tenho ouvido muitos comentários que o clima do filme remete a Hitchcock. O fato é que eu tinha em mente o tempo todo que queria misturar esses dois gêneros, o thriller e o cômico. Em última análise, eu acho que a tragédia se torna mais trágica quando há toques de comédia”, define.