“Alcarràs” ganhou o Urso de Ouro de 2022

 

RODRIGO FONSECA

Só neste sábado é que vamos conhecer quem vai ganhar o Urso de Ouro de 2023, mas a diretora que ganhou o cobiçado troféu alemão no ano passado, a catalã Carla Simón, esta no júri desta Berlinale e, a partir de sexta, vai exibir seu filmaço premiado, o doce “Alcarràs”, à cinefilia brasileira, na plataforma digital MUBI.

“Foi importante ter usado um dispositivo narrativa próximo da estética do documentário pra poder investigar uma cultura popular ligada à terra”, disse cineasta espanhola ao LABORATÓRIO POP, ao analisar a chegada do tocante “Alcarràs” ao www.mubi.com.

Após uma projeção concorrida na Mostra de São Paulo, o longa enfim dá as caras comercialmente por aqui, no fim de semana, e fica pela MUBI, a brilhar. Graças a esse filme, todas as dores e delícias de uma das instituições mais tensas e mais desgastadas da contemporaneidade – uma tal de família – se candidatam à Eternidade na memória cinéfila, a partir de vivências catalãs.

“Não existe um canteiro de dramaturgias mais farto e mais íntimo do que a vida em família”, disse Carla, durabte a passagem de “Alcarràs” no Festival de San Sebastián, em setembro.

Seu lançamento por aqui, agora, é um gesto similar ao movimento que esse streaming de celebração de vozes autorais fez ao lançar com exclusividade “Drive My Car” (Oscar de Filme Internacional do Japão, em 2022) e “Titane” (Palma de Ouro da França, em 2021). Ambos ainda podem ser vistos por lá.

Carla dirige, com excelência e afeto, um exercício de ficção com os pés fincados do real, que corre telas Velho Mundo adentro. Cinco anos após o cult “Verão 1993” (2017), a diretora regressou ao Festival de Berlim – que lhe deu visibilidade no passado – para narrar o dia a dia de lutas dos Solé, um clã agricultor que vive da colheita de pêssegos em uma cidadezinha do interior. Nenhum dos personagens é interpretado por atrizes ou atores com experiências profissionais. Todas, todes e todos foram selecionados em festas populares, antes da pandemia. Após reunir sua trupe, a diretora criou uma célula familiar que gira em torno dos pessegueiros e das brincadeiras de um divertidíssimo quarteto de criancinhas.

“O mimo que existe nas brincadeiras de criança é algo raro e vívido, que se alinha com a nossa busca por uma ideia de inusitado, de surpresa. Crianças mantêm o filme vivo e dão ao filme um tom casual. A natureza híbrida de documentário que eu persigo já vem do ‘Verão 1993’ e me interessa por me permitir encontrar pessoas de perfil distinto do meu, ligadas a um outro contexto de trabalho como as que levei às telas aqui, a comporem um grupo coeso”, disse Carla ao LABORATÓRIO.

Sua trama é arquitetada como uma crônica do dia a dia dos Solé. O clã é liderado pelo doce brucutu Quinet (Jordi Pujol Dolcet), que luta contra o abuso dos varejistas no valor pago aos rancheiros por frutos e contra a ocupação das terras ibéricas por painéis solares.

“Venho de uma família grande e aprendi nos almoços longos com meus parentes a saber escutar histórias”, disse Carla.

Vai ter Berlinale até o dia 26.