por Carlos Augusto Brandão, de Berlim
Depois de fazer clássicos como “O encouraçado Potemkin” e “Outubro”, Sergei Eisenstein teve a ideia de realizar “Que viva México!” sobre a cultura do país.
Com o projeto em mente, em 1931 ele passou 10 dias em Guanajuato para rodar o filme. A obra ficou inacabada por causa de dívidas e brigas, mas lá ele se apaixonou e suas experiências na cidade foram cruciais para a vida e para os filmes seguintes do diretor.
Esse é o tema do aguardado “Eisenstein in Guanajuato”, de Peter Greenaway, que concorre ao Urso de Ouro nesta 65ª edição do Festival de Berlim.
O ator finlandês Elmer Back interpreta Eisenstein e o mexicano Luís Alberti o guia com quem o cineasta teve um romance fugaz e, com ele, descobriu sua homossexualidade. Estão também no elenco o sul africano Stelio Savante como Hunter S. Kimbrough e Lisa Owen como Mary Craig Sinclair.
O filme recebeu aqui reações opostas e as avaliações desfavoráveis decorrem da forma como Greenaway retratou Eisenstein, exagerando muitas vezes na questão homossexual e colocando em segundo plano sua genial contribuição para o cinema.
Na coletiva após a sessão prévia para a imprensa, no entanto, Greenaway disse que a origem do filme está no seu desejo de fazer um tributo ao diretor russo.
“Os motivos para realizá-lo decorrem da minha profunda e longa admiração por Eisenstein. Numa época em que o cinema está ‘morrendo’, é pertinente celebrar um dos maiores diretores do cinema e sua contribuição para a sétima arte”, complementou, acrescentando que os problemas que Eisenstein teve na época para rodar “Que viva México!” voltam sempre a aparecer.
“É uma indústria que se repete com as mesmas dificuldades: carência de financiamento, problemas de logística, entraves culturais, barreiras de linguísticas e outros. Mas assim como ele superou esses desafios, nós também tentamos superar”, ponderou.
Para Greenaway, as vivências no México humanizaram Eisenstein e significaram um impulso criativo para o resto de sua obra.
“Minha tese é que seus três filmes, ‘A greve’ (1924), ‘O encouraçado Potemkin’ (1925) e ‘Outubro’ (1928), são muito diferentes de outros como ‘Alexander Nevsky’ (1938) e ‘Ivan o Terrivel’ (1944) e atribuo isso a seu período em Guanajuato”, explicou, revelando também que há muito tempo é fascinado pela cultura Asteca e pela afabilidade encantadora dos mexicanos.
“Costumo passar horas no Museu Britânico, que tem uma grande coleção de obras latino-americanas. Eu já estive no México umas vinte vezes, mas agora foi diferente, estava trabalhando lá onde encontrei gente incrivelmente amigável, incrivelmente aberta”, reconheceu o diretor antecipando que seu próximo projeto deverá ser uma espécie de continuação de “Morte em Veneza”, que Luchino Visconti realizou em 1971.