Myrna Silveira Brandão, de Nova York
Apichatpong Weerasethakul é uma presença assídua no Festival de Nova York, onde já esteve com “Mal dos trópicos” (2004), “Síndromes e um século” (2006) e o impactante “Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas” (2010). Ele está de volta com “Cemetery of splendour”, bastante aplaudido nesta quarta-feira (16.09) na sessão prévia para a imprensa da 53ª edição do evento. O novo trabalho do cineasta tailandês se passa dentro de um hospital lotado de soldados em coma.
Presos a máquinas de sonho e cuidados por uma bondosa voluntária (Jenjira Pongpas Widner) e uma jovem médium (Jarinpattra Rueangram), é dito àqueles homens que, no seu sono, eles estão numa guerra lutando em favor de reis inimigos mortos há muito tempo.
Através dessas misteriosas letargias, o diretor procura criar uma rica metáfora central: o sono como um refúgio seguro, como um mecanismo escapista e como uma benção.
Além dos efeitos oníricos, o filme mescla fenômenos sobrenaturais com fantasmas e traumas nacionais históricos da Tailândia.
Weerasethakul conta que, para filmar essa fábula espiritual, voltou à sua cidade natal Khon Kaen, com sua selva, montanhas e crenças animistas.
“Foi uma experiência emocional, mas muito triste”, revela o diretor, lamentando que a cidade tenha mudado tanto.
“Na minha mente, só existia minha casa, um cinema e o hospital onde minha mãe trabalhava como médica. Fiquei muito arrependido de não ter ido lá antes”, afirma Weerasethakul que, nas entrelinhas, aborda o golpe militar que a Tailândia sofreu no ano passado.
“’Cemetery of Splendour’ é um filme político porque fala da situação atual confusa e absurda do meu país. A única maneira de escapar é dormindo e sonhando”, explica.
O cineasta reconhece que seu cinema é diferente e, muitas vezes estranho, mas ressalva que cada espectador também dá uma resposta única para os seus filmes.
“Cada um deles tem uma recepção diferenciada, mas noto que as pessoas assistem e compartilham. Acho que as coisas devem seguir assim, não devo forçá-las a entender ou buscar interpretações”, enfatiza o diretor, cuja obra segue a mesma linha iniciada com seu intrigante primeiro longa-metragem “Eternamente sua”, de 2002, que o projetou internacionalmente.