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Myrna Silveira Brandão, de Nova York

 

 

Filmes como “4 meses, 3 semanas e 2 dias” (Cristian Mungiu), “A morte do senhor Lazarescu” (Cristi Puiu), “Califórnia dreaming” (Cristian Nemescu)  e “Polícia adjetivo” (Corneliu Porumboiu) deixam a certeza de que a qualidade do novo cinema romeno não é mais uma coincidência ou fato isolado desta ou daquela produção. Certamente por causa disso, “The treasure”, de Porumboiu, era aguardado com expectativa nesta quarta (30.09) na prévia para a imprensa da 53ª edição do Festival de Nova York. O filme ganhou em Cannes o prêmio Talent Prize da mostra Um Certain Regard.

 

O diretor está de volta ao NYFF, onde apresentou em 2013, com uma ótima receptividade, o seu “Quando a noite cai em Bucarest ou metabolismo”.

 

“The treasure” narra a história de Costi (Cuzin Toma), que leva uma vida rotineira, sem grandes acontecimentos, com sua mulher e filho. Embora com dificuldades para conviver com a crise romena e conseguir pagar as contas no final do mês, ele vai conseguindo manter a família.  Até que uma noite, Adrian (Adrian Purcarescu) – seu vizinho, que ele pouco conhece – bate à sua porta com uma proposta de negócio: ele está precisando de dinheiro para contratar alguém com um detector de metais, que o ajude a encontrar um suposto tesouro enterrado no quintal de seus avós. Se Costi emprestar a quantia, eles dividirão o que for achado. A partir daí, os espectadores vão descobrir se se trata de um golpe ou uma proposta honesta. Em tom de fábula, a suposição de riqueza imediata gradualmente vai se transformando numa história de múltiplas camadas envolvendo burocracia, papelada e culminando num viés totalmente surpreendente.

 

Mudando completamente o tom sério do começo, Porumboiu não perde a chance de destacar, de maneira hilariante, uma lei existente na Romênia, segundo a qual qualquer tesouro encontrado tem que ser imediatamente declarado à polícia para que esta decida se seu conteúdo é parte do patrimônio nacional e, portanto, propriedade imediata do estado.

 

Como nos seus filmes anteriores, o cinema de Porumboiu tem sempre ligação com o que acontece na sociedade contemporânea.

 

“A inspiração para meus filmes vem da ambiência ao meu redor e principalmente da observação dessa realidade”, confirma o diretor, acrescentando que os cineastas de sua geração cresceram num regime político onde o cinema era uma ferramenta importante de propaganda e, talvez por isso, os filmes procurem refletir a sociedade de maneira mais realista. “Sinto que eles compartilham o mesmo gosto pelo cinema, o que pode explicar o viés dos filmes romenos”, ressalta Porumboiu, dando sua opinião sobre essa nova onda: “Existe de fato um estilo predominante nos cineastas da minha geração, mas não é um movimento como a nouvelle vague francesa. Acho que ultimamente cada um de nós está explorando seu próprio universo, tornando o cinema romeno mais diversificado e, consequentemente com uma abrangência maior para todo tipo de público”, conclui o diretor, que se formou em administração antes de estudar direção de cinema.