Hot

ALO, os brothers do Jack Johnson, fazem álbum solar para dias felizes

Com rock, funk e folk, eles estão há anos no cenário da música alternativa californiana

por Robert Halfoun

Era uma tarde qualquer de 2024 em Santa Cruz, na Califórnia, mas o estúdio da ALO fervilhava como um final de verão que se recusa a ir embora. Lá dentro, quatro músicos – Zach Gill, Dan Lebowitz, Steve Adams e Ezra Lipp – giravam em torno de um mesmo eixo: o prazer de tocar juntos. E é sobre isso que estamos falando!

Frames não era só mais um álbum. Era um reencontro com a leveza. Um manifesto dançante em tempos confusos, onde o excesso é regra e não exceção.

A história da Animal Liberation Orchestra, no entanto, começa muito antes disso. Nos corredores do ensino fundamental em Saratoga, Califórnia, Zach, Dan e Steve já se reconheciam nos instrumentos que empunhavam. Formaram bandas adolescentes, tocaram em festas de garagem, escreveram canções sob influência direta do sol californiano e das ondas do Pacífico. ALO foi tomando forma ali mesmo, no meio dessa amizade que nunca precisou de contrato para funcionar.

Depois da faculdade – onde cruzaram com nomes como Jack Johnson, que se tornaria colaborador frequente e parceiro de selo –, seguiram tocando, testando, descobrindo. Passaram pelos circuitos independentes, abriram shows, tocaram em festivais, construindo uma reputação sólida de banda que brilha especialmente ao vivo. Zach Gill, além da ALO, tornaria-se também um dos músicos-chave da banda de apoio de Jack Johnson, espalhando sua assinatura sonora para além dos projetos da ALO.

No cenário da música alternativa californiana, ALO ocupa uma posição peculiar e essencial: são como os curadores da boa vibração. Não os mais barulhentos, nem os mais conceituais, mas os mais consistentes. São, há mais de duas décadas, os artesãos de uma sonoridade que mistura rock, funk, folk, jam e aquele calor acústico que só o oeste americano sabe produzir.

Frames, lançado em abril de 2025, é o oitavo álbum de estúdio da banda – e marca o fim de um hiato de sete anos desde o último trabalho, Creatures Vol. 1 (2018). Sete anos de estrada, vida, e mudanças, condensados em dez faixas que funcionam como pequenos mundos.

Aqui, as armações (de óculos), um dos usos para a palavra frames, revelam passagens, cenas, instantes. Estamos falando de um disco para ouvir de janela aberta, com vento entrando e os problemas esperando lá fora. Um trabalho solar, sem vergonha de ser feliz. Da introspectiva “Make It Back Again” ao groove de “Hey Hello (Tales of the Twist and Shout)”, cada faixa parece oferecer um gesto de gentileza ao ouvinte.

“Blank Canvas” abre o disco e dá o sinal do que vamos ouvir dali para frente: melodias fáceis, abertas, arranjos delicados com tudo muito bem tocado e um lembrete explícito: há sempre espaço para recomeçar. Pintar por cima do cinza.

Na contramão da urgência contemporânea, ALO faz música como quem cultiva – devagar, com atenção, e com raízes fincadas na amizade. Frames não quer impressionar, mas acolher. Afinal, há vezes em que tudo o que a gente precisa é de uma trilha sonora sincera para os dias felizes. É como se Mark Knopfler em momentos radiantes encontrasse o sempre radiante Daryl Hall.