por Myrna Silveira Brandão, de Berlim
O cineasta carioca Joel Pizzini não conseguia disfarçar a ansiedade antes da sessão do seu “Mar de fogo”, que integra a mostra oficial de curtas-metragens na 65ª edição do Festival de Berlim.
Único título do Brasil a concorrer a um Urso nesta edição da Berlinale, a sessão teve a presença de muitos brasileiros que moram na cidade e outros que estão aqui por causa do festival.
Bem no estilo característico da obra do diretor de 54 anos, “Mar de fogo” é um filme-ensaio experimental sobre as “pulsões inventivas” de Mário Peixoto, autor de “Limite” (1930), um clássico do cinema mudo.
“Mar de fogo” está concorrendo com 26 produções, de 18 países, entre os quais Argentina, Chile, EUA, Índia, Butão, Japão e Alemanha, que predomina na competição com seis títulos.
Pela primeira vez, os participantes também concorrem a um prêmio de 20 mil euros. Além da estatueta, o vencedor ganhará ainda a honraria máxima da Berlinale que, automaticamente o incluirá entre os indicados ao European Film Awards.
Antes da sessão Pizzini deu entrevista ao Laboratório Pop quando falou sobre o filme e os resultados que espera desta seleção aqui.
Qual a motivação para fazer o filme?
“É um filme experimental que recria livremente a visão do Mário (Peixoto) e é narrado na primeira pessoa por ele. Eu me apropriei de imagens de Limite e a experiência resultou numa reflexão sobre as sensações e os impulsos que o Mário teve quando fez o filme”.
Você se tornou amigo do Mário, como o conheceu?
“Quando assisti ao filme pela primeira vez, fiquei maravilhado. Fui até Angra dos Reis, onde Mario morava e ele me recebeu muito bem. Conversamos bastante e ele me revelou que, ao contrário do que muitas pessoas pensam que sua obra está ligada à vanguarda francesa, ele se via muito mais influenciado pelos filmes impressionistas do cinema alemão”.
Como está vendo a participação de Mar de Fogo em Berlim?
“Acho que valoriza um trabalho de pesquisa de linguagem que desenvolvo há anos e que inclusive resultou numa bolsa residência no Arsenal em Berlim em 2012. Fiquei muito feliz com a escolha, o que só aumenta a responsabilidade por ser o único filme brasileiro selecionado para concorrer ao Urso de Ouro, entre curtas e longas-metragens”.
Além disso, o que representa para o cinema a escolha do seu filme?
“O fato de o filme escolhido ser um filme essencialmente experimental é digno de reflexão. Temos que celebrar o poder transformador da memória e ocupar esse espaço. A Berlinale é um festival de ponta e pode abrir novas janelas para a nossa produção contemporânea, às vezes alijada do processo de construção da indústria”.
Qual reação espera do público da Berlinale?
“Tenho esperança que possa surpreender e atingir um público, além daquele que imaginamos, que se identifique com a sua proposta estética. Trata-se de um filme-ensaio que tem uma narrativa sensorial, evocando a subjetividade, o tempo da memória e sua relação com o espaço da criação cinematográfica”.