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Myrna Silveira Brandão, especial para o Laboratório Pop, de Berlim

 

Os diretores gaúchos Filipe Matzembacher e Marcio Reolon desenvolvem um trabalho caracterizado pela pesquisa autoral, focada em obras com abordagem de conflitos inerentes à juventude e à sexualidade. Seus curtas-metragens já percorreram importantes festivais e sempre foram bem recebidos, como aconteceu no Festival de Cine em Guadalajara, Cinema Luso Brasileiro de Santa Maria da Feira, Toronto LGBT IFF, entre outros. Agora, eles estreiam em longas com “Beira-Mar”, que foi mostrado em première mundial, na cultuada Mostra Fórum da 65ª edição do Festival de Berlim.

 

A história se passa durante o inverno e acompanha Martin (Mateus Almada) e Tomaz (Maurício José Barcellos), quando os dois jovens fazem uma viagem ao litoral gaúcho. Martin precisa visitar parentes distantes, em busca de um documento para seu pai. Tomaz aceita acompanhá-lo nessa jornada, aproveitando a oportunidade para se reaproximar do amigo. Os dois passam os dias imersos em um universo próprio, expostos à família, que rejeita Martin e a estranha distância que surgiu entre ele e Tomaz.

 

Alternando momentos que envolvem distrações comuns, reflexões sobre suas vidas e sua amizade, os jovens se abrigam em uma casa à beira de um mar frio e revolto.

 

Antes da sessão, os diretores conversaram com o LABORATÓRIO POP sobre o filme e o que os motivou a realizá-lo.

 

“Nesse nosso primeiro longa-metragem, decidimos escavar nossas memórias e criar um processo de colagem de passados, encontrando um universo comum e honesto com nossas individualidades enquanto adolescentes”, disse Matzembacher, complementado por Reolon.

 

“Seguindo o resultado de nossa pesquisa sobre a juventude e sexualidade, agregamos o viés autobiográfico e naturalista a uma história que se passa em espaços de nossas vidas. Assim, a casa de Martin e Tomaz era também a casa de Mateus e Maurício (dupla de protagonistas). Essa aproximação dos lugares e das pessoas criou um clima muito interessante durante as gravações. Para fortalecer ainda mais a jornada dos personagens, fizemos questão de filmar na ordem do roteiro”, ressaltou o diretor, destacando um aspecto que foi muito importante para eles.

 

“Nós queríamos desenvolver uma narrativa que explorasse um lado do Brasil quase nunca abordado, distante do imaginário global sobre o país. Uma região fria, com pessoas mais apáticas e ambientes urbanos mais desertos. A revelação de outro lado da diversidade nacional foi essencial para nós”, afirma.

 

“Beira Mar” foi bem recebido e é candidato ao prêmio de melhor filme de estreia. Concorrem ao troféu os títulos participantes da Fórum e de algumas outras mostras do festival.