Myrna Silveira Brandão, de Berlim

Com a cidade cada vez mais lotada,  o Festival de Berlim dá continuidade à sua 65ª edição que começou na última quinta (5).

 

A mostra oficial deste ano, embora não contemple títulos brasileiros, tem uma participação significativa da América do Sul.  Entre os 19 concorrentes, há dois chilenos e o guatemalteco Ilcanul Volcano, de Jayro Bustamante, que marca a primeira vez do país na Berlinale.  Os chilenos são “El Botón de Nácar”, de Patricio Guzmán e “El Club”, de Pablo Larrain, este último muito bem recebido nesta segunda (9) na sessão prévia para a imprensa.

 

O filme se passa numa casa, onde vive um grupo de sacerdotes que vive lá por razões diferenciadas: há enfermos,  os que cometeram abusos e foram relegados pelas autoridades eclesiásticas, os que têm problemas existenciais e os que apenas estão velhos ou cansados.  Em qualquer dos casos, são pessoas alijadas pela sociedade.

 

O ótimo roteiro foi escrito a três mãos pelo dramaturgo Guillermo Calderón, o crítico e escritor Daniel Villalobos e por Larrain, que detalhou o processo de trabalho na coletiva após a projeção.

 

“Eu já tinha iniciado um roteiro e fomos acrescentando outros elementos e assim, num trabalho a três mãos, fomos encontrando a alma de El Club”, contou o diretor, acrescentando que, como em todo filme, os realizadores fizeram um intenso trabalho de pesquisa.

 

“Mas o resultado não tem necessariamente a ver com algo tão contingente. Há coisas que estão ocorrendo  agora, coisas que se passaram faz muito tempo e coisas que podem nunca acontecer”, ressalvou ele, afirmando que a luz e a escuridão não podem ser separadas.

 

“Essa é a ideia do filme: mostrar que não se pode esconder as pessoas. A Igreja acredita que seus integrantes são diferenciados do resto da sociedade e esconde os religiosos para acobertar seus erros”, completou.

 

Os filmes do diretor chileno  tem sempre uma poderosa ressonância nos tempos atuais e, até então, tem seguido personagens singulares como foi o caso do bailarino Tony Manero, o de Mario Cornejo (em Post Mortem) e o publicitário Rene Saavedra em No.  Desta vez, “El Club” segue vários personagens que, como lembrou  Larraín, formam um grupo composto por pessoas alijadas.

 

“O filme mostra o que acontece com qualquer grupo que se vê forçado a viver em comunidade, ele  se organiza e começa a entender o mundo de uma maneira determinada”, afirmou o diretor apostando na interpretação que o público possa dar ao filme.

 

“Os espectadores podem incorporar coisas da realidade, transformá-las e fazê-las suas. Mais do que a história em si, me fascina a história incompleta”, ressaltou Larrain, que como já declarou em outras entrevistas, acha que a memória coletiva está cheia de lembranças  ainda obscuras que precisam ser esclarecidas.