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O cineasta capixaba de Cachoeiro de Itapemirim Diego Zon não conseguia disfarçar a ansiedade na sessão do seu “Das águas que passam”, que integra a mostra oficial de curtas-metragens na 66ª edição do Festival de Berlim. Único título do Brasil a concorrer a um Urso nesta edição da Berlinale, a sessão teve a presença de muitos brasileiros que moram na cidade e outros que estão aqui por causa do festival.

 

O documentário concorre com 24 produções de 20 países e foi rodado em março de 2015 na Vila Regência, da cidade de Linhares (ES), foz do Rio Doce, portanto antes da tragédia ambiental que devastou a região.

 

O roteiro segue o cotidiano de Zé de Sabino, um pescador e o amor que tem pelo rio de onde tira seu sustento e onde constrói sua identidade.

 

Sabino trabalhava na região que foi profundamente afetada pelo desastre ecológico causado pelo rompimento da barragem da mineradora Samarco em Bento Ribeiro, Minas Gerais.

 

Zon estudou Publicidade e antes deste dirigiu três curtas-metragens: “Maestro em Si” (2010), “A Nona Vítima” (2011) e “Os Lados da Rua” (2012).

 

Em entrevista ao LABORATÓRIO POP, o jovem diretor de 29 anos, falou do filme, da seleção em Berlim e desse réquiem involuntário de ter feito o documentário num cenário que desapareceria logo depois.

 

Como você viu essa seleção para Berlim na competitiva para o Ouro de Curtas?

 

“Certamente foi com surpresa que recebemos a notícia. Ao inscrever o filme, imaginava que caso fosse selecionado, seria em uma mostra paralela e não na competitiva oficial. Ainda estou tentando acreditar”.

 

Qual a importância para a carreira do filme?

 

“Como será o primeiro festival que o filme participará, espero que a partir da Berlinale, ele possa ter maior visibilidade para seguir sua carreira em outros festivais e circuitos”.

 

Considerando tudo que aconteceu na região, o filme conta uma história que só vai permanecer graças ao seu documentário. Acha que isso será percebido?

 

 

“Imagino que o público da Berlinale e a equipe do festival não percebam que o curta foi rodado em uma das regiões (na foz do Rio Doce e costa marítima), onde ocorreu o maior desastre ambiental do Brasil e, paralelamente ao que aconteceu, a memória que o filme preservará. Acho que se perceberem pode até causar certa estranheza. Trata-se de uma história real que, após o ocorrido na região, corre o risco de ser confundida com uma ficção”.

 

Como conseguiu explorar tão bem os elementos sensoriais próprios da natureza da região em estreita ligação com o personagem?

 

“Para isso foi muito importante o entendimento com Patrick (Tristão), o diretor de fotografia. Conversamos muito sobre o que pensávamos que seria o filme. A sintonia que conseguimos foi fundamental porque muitas coisas foram decididas durante a filmagem. Procuramos ficar o mais próximo possível daquela realidade para que a história tivesse veracidade”.

 

Qual receptividade espera do público da Berlinale?

 

“Estou curioso para conhecer a receptividade do público com as sensações e reflexões que o filme propõe”.