Myrna Silveira Brandão, especial para o LABORATÓRIO POP, de Berlim
Poucos cineastas têm uma carreira tão diversificada quanto Agnieszka Holland, uma artista verdadeiramente global que já trabalhou na Alemanha, na França, República Tcheca, Inglaterra e Estados Unidos e, claro, na sua Polônia nativa. Sem deixar de lado sua expressiva atuação no cinema, ultimamente Holland tem alcançado sucesso considerável na televisão norte-americana, dirigindo episódios bastante aclamados de “The wire” (2002-2008), “The killing” (2011-2014), “House of Cards” (2013) e “Burning Bush” (2013). A diretora polonesa foi muito aplaudida neste domingo (12) na sessão para a imprensa de “Spoor”, seu novo filme que concorre ao Urso de Ouro nesta 67ª edição do Festival de Berlim.
A trama – que a traz de volta às locações na Polônia – segue Janina Duszejko (Agnieszka Mandat), uma mulher amante dos animais, vivendo em um rincão remoto do interior polonês. Quando seu cachorro desaparece, ela passa a defender outros animais dos caçadores locais e acabará sendo a principal suspeita de um assassinato. Holland escreveu o roteiro juntamente com Olga Tokarczuk, autora do romance serial killer, no qual o filme é baseado. Com o intrigante título de Drive Your Plough Over the Bones of the Dead – em tradução literal Conduza seu arado sobre os ossos dos mortos – o livro foi indicado ao Prêmio literário Nike em 2010.
Na coletiva após a projeção – da qual participou o LABORATÓRIO POP – Holland falou sobre o filme e o bom momento do cinema polonês.
O que a atraiu para este projeto que a senhora descreveu como um thriller de humor negro ecológico?
- Eu gosto muito dos livros da Olga e quando li esse romance pela primeira vez, eu pensei que poderia dar um filme. Mas ninguém parecia considerar possível fazer sua adaptação para as telas. Um amigo produtor polonês, baseado em Berlim, me perguntou se eu estaria interessada no projeto. Eu reli o romance e disse sim, achando que seria simples de adaptar, mas na verdade não foi.
Como foi o desenvolvimento do trabalho?
- Olga fez o primeiro rascunho e depois trabalhamos juntas. Mas o roteiro passou por muitos e muitos rascunhos. E mesmo depois, quando eu estava filmando, eu percebi que o filme realmente somente iria encontrar a sua forma na sala de edição.
Está satisfeita com os resultados?
- Foi desafiador, tentamos coisas diferentes para encontrar a maneira certa para contar história. É muito diferente de qualquer filme que fiz antes, mas acho que está interessante.
Como foi a experiência de fazer o filme na Polônia?
- Nós filmamos durante três temporadas, então foi a mais longa experiência de filmagem que eu tive. Mas a equipe foi fantástica. Para a personagem principal, Janina, que é uma mulher com mais de 60 anos, eu queria uma atriz que nunca tivesse desempenhado um papel de protagonista antes.
Foi essa a razão de ter escolhido Agnieszka Mandat?
- Sim, ela tem algumas participações pequenas em filmes, mas é mais conhecida por seu trabalho no teatro em Cracóvia e também é professora na Escola de Dramaturgia de lá. Na verdade, era para ela estar no meu primeiro filme, mas acabou não acontecendo e rolou agora 40 anos depois. Foi fantástico trabalharmos juntas.
Concorda que este parece ser um forte momento para o cinema polonês?
- Sim, há muitos cineastas interessantes, tanto da geração de meia idade quanto das mais jovens que estão chegando. A produção tem-se mantido estável e até em crescimento nos últimos dez anos. Acho que houve um verdadeiro renascimento do filme polonês e espero que continue.