Myrna Silveira Brandão, de Berlim
Fotos de Maria Antônia Silveira Gonçalves e Divulgação
Entre as mudanças realizadas pela nova direção do Festival de Berlim, a extinção da categoria “fora de competição” foi uma delas. Em face disso, filmes não concorrentes estão sendo apresentados nesta 70ª edição do evento como parte da Gala Especial da Berlinale. Um dos destaques – “Pinóquio”, do diretor italiano Matteo Garrone – foi mostrado neste domingo (23) em sessão de gala no majestoso Berlinale Palast.
Na adaptação livre de Garrone do livro infantil de Carlo Collodi, Roberto Benigni interpreta o lenhador Geppetto e Federico Ielapi vive o boneco de madeira que sonha ser de carne e osso. Com excelente cinematografia de Nicolai Bruel perfeitamente integrada à atmosfera italiana, é um daqueles títulos raros que atrai grupos etários variados e foi fiel ao pensamento do autor, conforme ressaltado por Carlo Chatrain, diretor da Berlinale.
“Garrone conseguiu recontar a conhecida história com seu próprio mundo de imagens. Embora seja fiel às ideias de Collodi, ele criou um Pinóquio bastante pessoal que é muito mais alegre do que experimentamos antes”, destacou Chatrain.
Embora pudesse menos longo, um ponto alto, além do comovente final, é fazer com que o sentimento prevaleça sobre qualquer indicio de sentimentalismo.
Após sessão prévia para a imprensa, Garrone, Benigni e equipe do filme conversaram com os jornalistas.
O diretor deixou claro que sua releitura do clássico de Collodi sobre um boneco que ganha vida é um filme diferente em sua carreira.
“Estou muito feliz por sentir que cada quadro é muito meu, mas ao mesmo tempo eu queria fazer um filme que pudesse atingir um grande público”, ressaltou.
Benigni, após um longo hiato na tela grande – a última vez tinha sido uma participação especial em “Para Roma com amor”, de Woody Allen (2012) – chamou Garrone de “o melhor Pinóquio que já vi”.
“No filme estou vivendo um pai como fiz em “A Vida é Bela”, mas desta vez estou interpretando um dos pais mais famosos do mundo”, afirmou.
Garrone disse que permaneceu fiel ao conto original de Collodi e agradeceu calorosamente ao especialista britânico em maquiagem protética Mark Coulier por seu trabalho no filme.
O conto ficou famoso pelo filme de animação da Disney de 1940 e pelo próprio Benigni que dirigiu uma adaptação em 2002 que não foi bem nas bilheterias.
O Pinóquio de Garrone traz forte emoção à história e é uma das adaptações cinematográficas mais ambiciosas até hoje realizadas com o livro de Collodi. Em 2021 está sendo programada uma exibição pela Netflix de uma animação em stop-motion, ora em realização por Guillermo del Toro.
Outro concorrente ao Urso de Ouro foi “Undine”, do diretor alemão Christian Petzold. O filme é o primeiro de sua nova da trilogia com mitos alemães.
Projeto inspirado numa figura mitológica – e com o nome da ninfa que seduz homens – o filme segue Undine (Paula Beer), uma historiadora que trabalha como guia em Berlim nos dias atuais. Quando o homem que ela ama (Jacob Matschenz) a deixa por outra mulher, ela é amaldiçoada, obrigada a matar quem a traiu e voltar para as águas de onde veio.
No entanto, ao contrário da personagem mitológica, Undine tenta desafiar o seu destino e, imediatamente após fim da relação, apaixona-se pelo mergulhador Christoph (Franz Rogovski). Tudo corre às mil maravilhas, até que ele percebe que Undine está fugindo de algo e começa a se sentir traído.
Petzold retorna ao pódio da Berlinale onde por quatro vezes concorreu ao Urso de Ouro com: “Em Trânsito”, “Yella’, “Fantasmas” e “Barbara”, título que lhe deu o Urso de Prata de melhor diretor. Em 2003, com “Wolfsburg”, mostrado na Panorama, ganhou o prêmio da FIPRESCI.