Myrna Silveira Brandão, de Berlim
Fotos de Maria Antônia Silveira Gonçalves e Divulgação
O cineasta de Taiwan Tsai Ming-liang apresentou nesta quinta (27) seu novo filme, “Days”, que está concorrendo ao Urso de Ouro nesta 70ª edição do Festival de Berlim. Estrelado por Lee Kang-Sheng, ator de longa data de Tsai, o filme foi bem recebido em sua estreia aqui. Tsai é um diretor no auge de sua arte e com estilo muito pessoal: planos demorados e rigorosos, isolamento, flagrantes de angústia…
Seus roteiros, como tem repetido em entrevistas, são apenas instruções para as filmagens e sempre deixam espaço para improvisação.
“Nos meus roteiros não há quase diálogo para os atores, mas eu me comunico muito com eles para que, quando estiverem em um ambiente, tenham ideia como expressar seus personagens. Esse estilo permite que os atores experimentem a vida e atuem no filme como pessoas reais. Eu sempre dedico muito tempo a eles dentro da cena, espero com paciência e então eles agem naturalmente. Essa é a melhor técnica”, ensinou o diretor, que prefere também exibir a narrativa em termos visuais.
“Os locais são como personagens. Eles têm coisas a dizer. Eu passo muito tempo observando. Há coisas que não podem ser feitas artificialmente”.
Para ele, a crise no mercado de cinema de arte é mundial.
“Os espaços para filmes de arte têm diminuído em todo o mundo. Em Taiwan, os cinemas estão nos shopping centers. Na Europa, até os canais de TV especializados se curvam a Hollywood. É preciso pensar em formas diferentes de fazer com que os filmes cheguem ao público”, analisa citando algumas estratégias para isso.
“Acredito que os filmes de arte não deveriam ser exibidos apenas nos cinemas e também não podem ficar restritos ao circuito de festivais. Eles precisam ocupar outros lugares: museus, faculdades…”, diz o diretor, que costuma promover muitos encontros nas universidades para mostrar e debater seus filmes.