Myrna Silveira Brandão

Havia uma expectativa enorme em relação ao anúncio da competitiva oficial do Festival de Berlim. O suspense terminou nesta quarta-feira (29/1), quando os organizadores finalmente divulgaram os filmes da principal mostra de sua 70ª edição, cujo júri será presidido pelo ator britânico Jeremy Irons, de 72 anos. Com “Todos os mortos”, Marco Dutra e Caetano Gotardo integram a seleção dos filmes da mostra e vão disputar o principal prêmio do festival.

O filme, um drama de época, segue três mulheres reféns das memórias da fazenda da família, que não conseguem acompanhar a modernização de São Paulo no período. Dutra é autor de “As boas maneiras” e “Trabalhar cansa”. Gotardo se notabilizou pela produção intimista em especial, “O que se move”, seu longa de estreia.

Por telefone, Dutra manifestou sua satisfação com a seleção do filme para a mostra oficial de, como disse, um dos festivais mais importantes do mundo.

“Estou emocionado e muito feliz, é o que posso dizer agora”, declarou ao LABORATÓRIO POP.

O programa da competição ora divulgado inclui 18 filmes de 18 países, com 16 estreias mundiais – no qual também se destacam: Le Sel des Larmes, de Philippe Garrel – França / Suiça; Days, de Tsai Ming-Liang – Taiwan; The Roads Not Taken, de Sally Potter – UK; Undine, de Christian Petzold – Alemanha /França; e Siberia, do polêmico Abel Ferra – Itália / Alemanha/ México.

Também foram divulgados quatro títulos na Berlinale Special, que completam a mostra.

Carlo Chatrian, diretor artístico do festival, disse que os títulos da mostra oficial desta edição contam histórias que têm um efeito duradouro e ganham impacto na interação com o público.

“Se há predominância de tons sombrios, isso se deve ao fato de os filmes tenderem a olhar para o presente sem ilusão. Não para causar medo, mas porque querem abrir nossos olhos. A confiança que o cinema deposita na humanidade é ininterrupta – tão ininterrupta que a vê como protagonista”, ressaltou Chatrain.

“My Salinger Year”, do canadense Philippe Falardeau, dará partida em 20 de fevereiro ao festival, que vai até 1 de março.

Confira os títulos anunciados da Competição e da Berlinale Special.

Competição

Berlin Alexanderplatz, de Burhan Qurbani – Alemanha / Holanda
DAU. Natasha, de Ilya Khrzhanovskiy, Jekaterina Oertel – Alemanha / Ucrânia / UK / Federação Russa
The Woman Who Ran, de Hong Sangsoo – República da Coréia
Delete History, de Benoït Delépine, Gustave Kervem – França / Bélgica
The Intruder, de Natalia Meta – Argentina / México
Favolacce, de Damiano & Fabio D’Innocenso – Itália / Suiça
First Cow, de Kelly Reichardt – EUA
Irradiés, de Rithy Panh – França / Camboja
Le Sel des Larmes, de Philippe Garrel – França / Suiça
Never Rarely Sometimes Always, de Eliza Hittman – EUA
Days, de Tsai Ming-Liang – Taiwan
The Roads Not Taken, de Sally Potter – UK
My Little Sister, de Stéphanie Chuat, Véronique Reymond – Suiça
There is No Evil, de Mohammad Rasoulof – Alemanha / República Tcheca / Irã
Siberia, de Abel Ferrara – Itália / Alemanha / México
Todos os Mortos, de Caetano Gotardo, Marco Dutra – Brasil / França
Undine, de Christian Petzold – Alemanha França
Hidden Away, de Giorgio Diritti – Itália

Berlinale Special

Os filmes abaixo completam o programa já divulgado anteriormente, num total de 20 filmes de 19 países, sendo 15 premières mundiais.

Onward, de Dan Scanlon – EUA- animação
Curveball, de Jahannes Naber – Alemanha
DAU.Degeneraration, de Ilya Khrzhanovskiy, Ilya Permyakov – Alemanha / Ucrânia / UK / Federação Russa – documentário
Speer Goes to Hollywood, de Vanessa Lapa – Israel – documentário

Brasileiros
Além de “Todos os Mortos”, na mostra oficial – e conforme divulgado anteriormente – o Brasil integra várias paralelas, totalizando 18 filmes em produções e coproduções.

Na Panorama
“Cidade Pássaro”, de Matias Mariani; “O Reflexo do Lago”, de Fernando Segtowick; “Vento Seco”, de Daniel Nolasco; e Rã, de Julia Zakia e Ana Flávia Cavalcanti, que concorrerá na mostra de curta-metragem
O cineasta brasileiro Karim Aïnouz, radicado em Berlim, apresentará seu novo filme Nardjes A. (coprodução com Argélia e França).

Na Geração
“Meu nome é Bagdá”, de Caru Alves de Souza; “Alice Júnior”, de Gil Baroni; e “Irmã”, de Luciana Mazeto e Vinicius Lopes.

Na Fórum – “Luz nos Trópicos”, de Paula Gaitán; e “Vil, Má”, de Gustavo Vinagre.

Na Fórum Expanded

Apiyemiyeki?, de Ana Vaz (produção com França / Holanda e Portugal);
(Outros) Fundamentos, de Aline Motta; Jogos Dirigidos, de Jonathas de Andrade; Vaga Carne, de Grace Passô e Ricardo Alves Jr.; e Letter from a Guarani Woman in Search of Her Land Without Evil, de Patrícia Ferreira, que é considerada a representante mais ativa do cinema indígena brasileiro.

Produções conjuntas

Além de Nardjes A., o Brasil marca presença ainda nas coproduções:
“ChicoVentana también Quisiera tener un Submarino”, de Alex Piperno – coprodução brasileira Desvia (Uruguai /Argentina / Holanda / Filipinas (Fórum); Los Conductos, de Camilo Restrepo – Colômbia – coprodução brasileira If You Hold a Stone (Encounters); e Un Crime Común, de Francisco Márquez (Argentina), coprodução brasileira Multiverso (Panorama).