Myrna Silveira Brandão, especial para o Laboratório Pop, de Berlim
Pela primeira vez, um filme guatemalteco está em competição no Festival de Berlim, o que aumentou a curiosidade e fez lotar a sessão prévia para a imprensa neste sábado (07.02), na 65ª edição do evento. Protagonizado por Maria Mercedes Croy e Maria
Telón, “”, de Jayro Bustamante, narra a história de Maria, uma jovem maia de 17 anos que vive ao pé de um vulcão ativo na Guatemala e aguarda um matrimônio arranjado com o superintendente das terras locais. Ela sonha em conhecer a cidade grande, mas sua posição de mulher indígena da tribo Caqchiquel não lhe permite misturar-se ao mundo moderno.Cativada pela conversa de Pepe – um jovem trabalhador da plantação que acena com a possibilidade dela emigrar para os EUA – Maria se deixa envolver, fica grávida e é abandonada por ele.
Escrito por Bustamante, Ixcanul, nome do vulcão local no filme, é inspirado num fato real. O roteiro foi apoiado na experiência do diretor com o tema – Bustamante entende o idioma caqchiquel – e sua familiaridade com os costumes maias adquiridos em sua juventude nas montanhas da Guatemala.
O elenco é formado por atores não profissionais, treinados num workshop. Uma curiosidade é que o início da produção coincidiu com uma doença que fechou os cafezais locais, tornando os moradores disponíveis para filmar, o que inclusive lhes garantiu uma fonte substituta de renda.
Visivelmente feliz e emocionado, Bustamante conversou com o LABORATÓRIO POP sobre o filme e como vê a situação desses povos na Guatemala. Confira os principais trechos:
Qual mensagem quis passar com “Ixcanul”?
O filme fala da impossibilidade de uma mulher – uma menor de idade da tribo Caqchiquel que vive longe de uma grande cidade – de determinar seu próprio destino.
Como vê as comparações feitas do seu filme com o realismo mágico de Gabriel Garcia Márquez?
Fico hesitante e dividido com as comparações do que se passa em Ixcanul com o realismo mágico de Gabo. Infelizmente acho que um termo mais apropriado para Guatemala seria o realismo trágico.
Sua experiência com o tema, ritos e mitos da cultura maia, ajudou na realização do filme?
Ajudou muito e um pouco do que pode acontecer com o não entendimento da cultura e do idioma é mostrado no filme. É um elemento dramático revelador. Os Caqchiquels não falam ou entendem espanhol. Isso torna mais fácil para os que se exprimem em espanhol, enganá-los quando estão falando entre si.
Como está vendo o sucesso de Ixcanul: esperava essa receptividade?
Jamais esperava que meu trabalho fosse despertar tanto interesse. Estou muito feliz de ter feito o filme e espero uma carreira promissora para ele. Essa experiência marcou minha vida e vai ficar comigo até o fim dos meus dias.