Myrna Silveira Brandão, Especial para o Laboratório Pop, de Berlim
Na noite deste sábado (14.02), o Festival de Berlim divulgou os vencedores dos Ursos de Ouro e Prata de sua 65ª edição, cujo júri foi presidido pelo cineasta americano Darren Aronofsky. “Foi muito difícil escolher os vencedores entre tantos filmes bons. Discutimos muito, mas acabamos ficando amigos”, disse Aronofsky, numa referência aos demais componentes do seu júri. Dieter Kosslick, diretor da Berlinale, afirmando que só pode permitir a seleção de bons filmes, completou: “Coisas boas e outras nem tanto aconteceram enquanto estávamos aqui. Este é um festival político, esta é minha opinião”. De encontro com a fala de Kosslick, o grande vencedor do Urso de Ouro foi “Táxi”, de Jafar Panahi, confirmando algo que já se esperava: os protestos que a Berlinale vem liderando desde 2011 em prol da liberdade de expressão e física do cineasta. O Urso de Ouro para Panahi foi recebido com entusiasmados aplausos em todos os locais, inclusive dos jornalistas que acompanhavam a cerimônia na sala de imprensa. “Táxi” também ganhou o Prêmio da Crítica Internacional FIPRESCI (Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica). Conhecida no meio como Frauke, a chefe da Assessoria de imprensa da Berlinale colocou o Urso de Ouro no
chão do palco vazio, simbolizando a ausência de Panahi.
Kosslick lembrou que naquele ano Panahi não pode vir a Berlim integrar o júri para o qual havia sido convidado.
“Há alguns anos tivemos que deixar uma cadeira vazia aqui para ele no júri”, ressaltou Kosslick e, logo a seguir, entregou o Urso de Ouro para Hana Panahi, sobrinha de Panahi, que representou o diretor iraniano.
A menina levantou o Urso de Ouro aos prantos e declarou:
“Não sou capaz de dizer nada, estou muito emocionada”.
O Grande Prêmio do Júri, o segundo mais importante do festival, foi para “El Club”, do chileno Pablo Larrain. O filme é uma história sobre um grupo de sacerdotes confinados numa casa, devido a crimes de pedofilia cometidos no passado.
“Muitas coisas estão acontecendo em nome de Deus. Obrigado a todos, ao Festival e ao meu irmão”, declarou Larrain.
Patrício Guzmán, com El Botón de Nácar, ganhou o prêmio de melhor roteiro.
“Vou falar em espanhol que é uma lingua muito bonita. Vida longa ao festival, ao júri e à delegação do Chile que está aqui”, disse Guzmán, que, com seu filme, ganhou também o Prêmio Ecumênico.
O prêmio de melhor diretor foi dividido entre a polonesa Malgorzata Szumowska com Body e o romeno Radu Jude com Aferim!
“É uma boa combinação, diretora e mulher, obrigado à minha equipe”, disse Szumowska”, complementada por Jude.
“Trabalhando com gente tão competente todos deveriam ser premiados”.
Tom Courtenay (77 anos) e Charlotte Ramplins (69) ganharam melhor ator e melhor atriz pelo excepcional desempenho de um casal em 45 Years, de Andrew Haigh. Eles foram aplaudidissimos pelo prêmio que não trouxe qualquer surpresa. Desde a estreia do filme aqui, eles despontaram como os grandes favoritos.
Courtenay declarou simplesmente: “Obrigado a todos e à Berlinale”.
Rampling, por sua vez, disse:
“Não vou chorar. O que quero dizer é que nas Olímpiadas de 1936 meu pai esteve aqui e eu fiquei pensando em um dia também ser reconhecida em Berlim e isso aconteceu agora. Obrigado a Andrew por permitir que expressassemos um pedaço da vida”.
O Prêmio Alfred Bauer, para filme inovador e que abre novas perspectivas para o cinema, foi para “Ixcanul Vulcano”, da Guatemala, que pela primeira vez, competiu na Berlinale.
Visivelmente emocionado, Bustamante subiu ao palco, sob calorosos aplausos, com as duas atrizes maias e declarou:
“Obrigado às Marias (Maria Mercedes Coroy e Maria Telón) ) e a Berlim por abrir suas portas para a Guatemala”.
O brasileiro “Que horas ela volta?”, de Anna Muylaert, saiu duplamente premiado.
Além do troféu da CICAE – Confederação Internacional dos Cinemas de Arte e Ensaio – ganhou o importante prêmio de audiência da Panorama. O filme de Muylaert liderou o certame desde o início, na categoria de ficção.
Balanço
A 65ª Berlinale manteve o viés social e político que caracteriza sua seleção, com muitos filmes de denúncia e temas ligados à realidade do mundo atual.
Nesse sentido, mais uma vez, esta edição será lembrada também pelo apoio em prol de Jafar Panahi que tem sido impedido de trabalhar e viajar pelas autoridades iranianas.
Além da premiação para “Que horas ela volta?”, o O Brasil teve uma significativa presença nas paralelas – principalmente na Panorama com 4 títulos e na Fórum com 2 – sempre com casa cheia.
Embora sem título concorrente em longas-metragens, marcou presença na competição de curtas ao Urso de Ouro com “Mar de Fogo”, de Joel Pizzini.
Um momento também importante para os brasileiros foi a entrega do Urso Honorário para Wim Wenders. A pedido do próprio Wenders, o cineasta Walter Salles foi escolhido para entregar o troféu para o homenageado.
VENCEDORES DOS PRINCIPAIS PRÊMIOS
– Urso de Ouro: Táxi, de Jafar Panahi (Irã)
– Urso de Prata – grande prêmio do júri: El Club, de Pablo Larrain (Chile)
– Urso de Prata – melhor diretor: dividido entre Malgorzata Szumowska com Body (Polônia) e Radu Jude, com Aferim! (Romênia)
– Urso de Prata – melhor ator: Tom Courtenay em 45 Years
– Urso de Prata – melhor atriz: Charlotte Rampling em 45 Years
– Prêmio de melhor roteiro: – El Botón de Nácar, de Patrício Guzmán
– Prêmio Alfred Bauer – trabalho inovador (uma homenagem ao fundador da Berlinale): Ixcanul Vulcano, de Jayro Bustamante (Guatemala)
– Prêmio para Longa/Metragem de estreia: 600 Millas, de Gabriel Ripstein – México (Panorama)
– Prêmio da Crítica Internacional: (Fipresci): Táxi, de Jafar Panahi (Irã)
– Prêmio Ecumênico: El Botón de Nácar, de Patrício Guzmán
– Prêmio Teddy Bear – melhor filme de temática homossexual:
em ficção: Nasty Baby, de Sebastián Silva
em documentário: El Hombre Nuevo, de Aldo Garay
– Prêmio de audiência da Panorama Principal: Que Horas ela Volta? de Anna Muylaert
– Prêmio de audiência da Panorama Documenta: Tell Spring not to Come This Year, de Michael McEvoy.
– Melhor filme da Mostra Generation: – Urso de Cristal: My Skinny Sister, de Sanna Lenken (Suécia / Alemanha)
– Melhor curta-metragem: Hosanna, de Na Young-kil