RODRIGO FONSECA
Mais ousado trabalho de interpretação do Festival de Cannes de 2024 até agora, “Marcello Mio” pode consagrar Chiara Mastroianni como a grande atriz que se tornou ao longo de três de décadas de uma carreira intensa. Sob a direção de seu habitual parceiro Christophe Honoré, ela contracena com a mãe, Catherine Deneuve, numa busca pelos resquícios do pai – Marcello Mastroianni (1924-1996) – que residem nela. É um diálogo com a grande tradição do cinema europeu praticado dos anos 1950 aos 1990, sobretudo na Itália. Tem Fellini, tem Antonioni, tem toda a tradição autoral e um país que virou uma pedra no sapato de Hollywood depois da II Guerra. Sua trama acompanha os esforços de Chiara para viver como se fosse Marcello por um tempo, vestindo-se como ele e comportando-se como homem – o homem que ele foi. Sua decisão assombra amigos e parentes e dá um nó em Catherine, mas permite que ela possa se reconhecer e se encontrar no simbolismo de uma figura paterna que foi amada por multidões.
Na reta final de Cannes, Paolo Sorrentino regressa ao festival, onze anos depois de seu “A Grande Beleza”, a celebrar a coragem das mulheres com “Parthenope”, narrando a saga de uma jovem ao longo dos anos 1970, com seus amores, seus encontros inusitados e seu mestre (papel de Silvio Orlando). Uma trilha sonora exuberante rega esse painel afetivo.