Rodrigo Fonseca
Tem um filmaço popular brasileiro na madrugada de terça para quarta, à 1h06, na TV Globo: “Cine Holliúdy” (2013), um fenômeno de bilheteria que desafiou todas as leis vetoriais do mercado exibidor brasileiro, transformando o diretor Halder Gomes, o Steven Spielberg de Fortaleza, numa celebridade. A projeção de hoje abre alas para a estreia da continuação desse marco do Nordeste em nossas telas: “A chibata sideral”, que estreia nesta quinta, com a promessa de lotar salas de exibição.

Há seis anos, num momento em que o Ceará tomou de assalto festivais do Brasil e do mundo, com cults de repercussão global como os filmes autorais Doce Amianto, Estrada para Ythaca e Mãe e Filha, a comédia de Halder bateu nas telas sem muito alarde e fez, num piscar de olho, uma bilheteria que muito astro lá dos states não faz mais. Só em sua terra natal, com mais de 400 mil pagantes, o filme deu um tchau pro Titanic (1997), desbancando o blockbuster com Leonardo DiCaprio do posto de filme mais visto da história do estado. Como as salas de exibição do Brasil são pequenas para Francisgleydisson, herói desta saga cinéfila, vivido por um hilário Edmilson Filho, sua luta vai além dessa esperada Parte Dois: uma série de TV com o personagem já já entra na grade da Globo.
Mas qual é a história dele? Ela vale uma certa filosofia…
Bonita de dizer, mas triste de viver, a frase “Pobre do povo que precisa de heróis” não se aplica a Pacatuba, cidadezinha do interior do Ceará onde a melhor política é o riso: lá, nos anos 1970, enquanto o Brasil arrastava as correntes da ditadura, um homem que amava o cinema travou uma guerra para levar alegria àqueles que sonhavam com um amor sem The End. Um herói de carne e osso, como você e eu, mas dotado do superpoder da perseverança. Seu nome: Francisgleydisson. Sua missão: manter aberta a única sala de exibição daquele mundo pequeno em tamanho, mas grande nos sonhos, que agora está aprendendo a sonhar em outras dimensões, a de uma telinha quadradinha, instalada na praça central onde, a cada Plim Plim, musas e galãs estão ao alcance de todos. Na trama de Halder, Francisgleydisson precisa usar toda sua imaginação para provar a seus conterrâneos que o cinema é a maior diversão.

Rápido, engraçado e poético, esse belo filme é um “Cinema Paradiso” a céu aberto, emocionante como o clássico moderno de Giuseppe Tornatore, revivendo com temperos cearenses histórias que parecem ser de Hollywood, mas que pertencem a cada um de nós. É uma ode ao verbo “resistir”, hoje tão surrado.