Rodrigo Fonseca
Coqueluche da Croisette, “The Apprentice” pode ganhar ainda mais fãs, na disputa pela Palma de Ouro de Cannes (quiçá até do júri), depois de ter sido ameaçado pelo comitê eleitoral de Donald Trump, seu personagem principal. O iraniano radicado na Escandinávia Ali Abbasi assina a direção do filme, que conta os feitos do empresário e ex-presidente dos EUA em sua juventude, numa sanha por poder. O papel principal é confiado a Sebastian Stan, o Soldado Invernal da Marvel, que tem uma interpretação magistral.
Seu refinado roteiro é centrado no processo de amadurecimento de Trump entre os anos 1970 e a década de 1980 a partir da relação de aprendizado que ele estabelece com o poderoso advogado Roy Cohn, vivido por Jeremy Strong (da série “Succession”). Roy vira um mentor que ensina a seu pupilo as manhas sobre como vencer nos negócios no apogeu do capitalismo consumista. A Trump Tower é o primeiro dos acertos de seu “aluno” que, pouco a pouco, trai a confiança do mestre. Desrespeita ainda sua mulher, Ivana (Maria Bakalova), submetendo-a a uma violência sexual.
Entre os concorrentes à Palma de Ouro, “The Apprentice” vem logo atrás de “Emilia Pérez”, de Jacques Audiard, tratado como favorito pela excelência de suas coreografias e a contundência de seu debate contra a transfobia. Na trama, um líder de um cartel do tráfico no México quer transicionar de gênero e pede ajuda a uma advogada – vivida por Zoe Saldaña, de “Avatar” – a fim de mudar de vida e virar Emilia (papel de Karla Sofía Gascón).