RODRIGO FONSECA
Um dos mais prolíficos diretores do Canadá, respeitado por seu olhar intimista sobre relações afetivas, Denis Côté traz nesta terça-feira, ao 67º Festival de San Sebastián, um estudo sobre a paranoia e o descontrole que lhe valeu uma indicação ao Urso de Ouro de Berlim, em fevereiro: “Ghost Town Anthology”. Seu título original é “Répertoire des villes disparues”. Na trama, os habitantes de Irenee-les-Neiges, vilarejo de Quebec, entram em polvorosa após a trágica morte de um moradro, em um acidente de carro, uma vez que, logo após o desastre, uma série de sujeitos desconhecidos, de atitudes suspeitas, começam a aparecer pelo local. Os “visitantes” começam a alterar a rotina dos moradores, em meio a um agravamento das baixíssimas temperaturas do nevado clima da região. O premiado diretor, famoso por “Vic e Flo viram um urso” (ganhador do Troféu Alfred Bauer na Berlinale 2013), falou ao Laboratório Pop sobre a dimensão sensorial dessa e de suas demais narrativas.
“A palavra ’Desejo’ é um termo engraçado. Tenho a sensação de que a maioria dos meus personagens é teimosa. Eles, na maioria das vezes, acreditam estar sozinhos na hora de encarar o mundo, criando um sistema mais introspectivo para lidar com o mundo, enfrenta-lo. Eles odeiam regras e farão o possível para preservar o que sobrou de sua liberdade”, disse Côté. “Meus personagens não são agressivos, aceitam as condições que o cercam, mas buscam alguma insurreição. Meus personagens dificilmente aceitam não como resposta. De certa forma, eles são como eu. Nós fazemos filmes sobre nós mesmos até quando não admitimos isso. Filmar é uma egotrip, uma viagem de ego, interna. Quando um filme um funciona, isso significa que ele foi além da gente, além de seu criador. Mas isso nem sempre acontece”.
Um dos mais elogiados concorrentes da última Berlinale foi o melodrama da China “So long, my son”, de Wang Xiaoshuai, que lá conquistou os Ursos de Prata de melhor atriz e ator, está na seleção de San Sebastián desta terça-feira. Yong Mei e Wang Jingchun interpretam um casal que agoniza ao longo de 30 anos a dor da perda de um filho. “Eles deram ao filme a medida sutil de dor que permitisse ao espectador sentir aquele luto, mas entender a realidade chinesa em torno daquelas pessoas, de 1980 aos nossos dias”, disse Xiaoshuai ao Lab Pop.

San Sebastián segue até o dia 28, quando será realizada a cerimônia de premiação, precedida pela exibição de um filme surpresa, o que todos aqui acreditam ser o novo Woody Allen: “A rainy day in New York”.