RODRIGO FONSECA
Tem um filme de amor daqueles que afagam a alma na “Sessão da Tarde” desta sexta, lá pelas 13h50… 14h, na TV Globo: o sucesso ultrarromântico “Como se fosse a primeira vez”, numa versão brasileira batutíssima. Estamos diante de uma produção de US$ 75 milhões que teve um faturamento mundial de US$ 196 milhões de carona no carisma de Adam Richard Sandler, hoje o monarca do humor da Netflix. Seu recém-lançado “Mistério no Mediterrâneo” é um dos fenômenos do streaming no mundo, reaquecendo o prestígio popular que fez dele um senhor das bilheterias GG entre 1998 (com o surpreendente destaque de “O rei da água”) e 2011 (ano de “Cada um tem a gêmea que merece”, seu último sucessaço em tela grande). Mas este misto de comédia e love story agendado pela Globo para o fim de semana é algo muito acima de sua média estética. É, inclusive, um filme estudado pela crítica europeia.
É curioso como o esquecimento, na condição de túmulo da paixão, virou a alegoria mais lírica do cinema romântico dos anos 2000, vide a obra-prima neurológica “Brilho eterno de uma mente sem lembranças” (2004), rodada por Michel Gondry. Algo igualmente neural se passa com o delicioso poema pop “50 first dates” (título original deste acerto de Sandler), também lançado lançado há 15 anos. Inspirado, Sandler dosa manha, canastrice e violência em sua forma de construir a figura de Henry Roth, um biólogo marinho obrigado a conquistar a mulher de sua vida, Lucy (Drew Barrymore, luminosa), dia após dia. Em “Como se fosse a primeira vez”, ela é vítima de um tipo de amnésia que deleta sua memória recente. Assim, Lucy esquece quem Roth é a cada novo amanhecer. Essa situação dramática permite que o diretor Peter Segal (de “Agente 86”) conjugue o verbo amar numa lógica de P.A. (progressão aritmética) e P.G. (progressão geométrica) na qual a constante é o querer.
Na trilha sonora, suspire a dois com “Wouldn’t it be nice”, dos Beach Boys, e “Another day”, de Paul McCartney. Ah… É um presente para os tímpanos a comunhão dos dubladores Alexandre Moreno e Miriam Ficher nas vozes de Sandler e Drew, uma dupla que já havia demonstrado química em “Afinado no amor”, de 1998. Em 2014, eles contracenaram de novo, em “Juntos e misturados” – mas sem a mesma centelha de inspiração do passado.
Sandler este ano periga se destacar entre os potenciais candidatos ao Oscar à frente do thriller “Uncut Gems”, dos irmãos Josh e Bennie Safdie.
p.s.: Falando de TV Globo, neste domingo a emissora ataca de “Comando para matar” (1985) em seu “Corujão”, às 2h30, com Garcia Júnior dublando Arnoldão Schwarzenegger.