RODRIGO FONSECA
Às vésperas da estreia de “Uma Noite Haïfa” (2020), de Amos Gitai, no Brasil (marcado para esta quinta-feira), um outro cineasta de Israel, porém de uma geração mais jovem, impõe seu nome e seu talento no planisfério cinéfilo ao competir pelo Leopardo de Ouro do Festival de Locarno, na Suíça: Dani Rosenberg. Ele assina uma mistura de thriller, drama e comédia – com o melhor de cada um desses gêneros – chamada “The Vanishing Soldier”. Com um roteiro impecável, a produção acompanha os passos de um jovem soldado, Schloni (Ido Tako), de 18 anos. Durante um ataque à sua unidade, ele foge, com o objetivo de começar uma nova vida, em paz. Mas seu sumiço é entendido pelas forças militares como sendo uma baixa provocada pelas tropas inimigas
“Nosso filme é uma odisseia às avessas, centrado num rapaz que não pôde ter uma juventude convencional, e sai em busca de uma nova narrativa para sua vida”, disse Rosenberg ao Lab Pop, cercado de elogios pela potência da engenharia de som do filme. “Não estamos na estrada dos tijolos amarelos do Kansas e, sim, numa situação de conflito da qual não parece haver escapatória”.
Durante o papo, Rosenberg citou seu gosto por outro mito israelense das telas, o produtor e diretor Menahem Golan (1929-2014), que dirigiu Sylvester Stallone num clássico da “Sessão da Tarde”: “Falcão – O Campeão dos Campeões” (1987). “Fico feliz de saber que ele foi visto e que é reconhecido no Brasil. É importante saber que esse reconhecimento de sua obra vem de um entendimento de que ele fazia ‘cinema’ e, não, discursos políticos. É uma pena quando um filme só valorizado pela temática que ele traz”, diz Rosenberg, que faz uma espécie de crônica da atual vida juvenil de sua pátria. “Tem um pouco do Marty McFly da trilogia ‘De Volta Para o Futuro’ em Schlomi. Pensei nesse filme dos anos 1980 quando idealizava o perfil dele”.
Iniciado no último dia 2, Festival de Locarno termina no dia 12, com a entrega de prêmios feita pelo júri presidido pelo ator Lambert Wilson. Até o momento, “The Vasnishing Soldier” tem em seus calcanhares três outros títulos da competição com aura de favoritismo. O mais forte é o drama luso-suíço “Manga d’Terra”, de Basil da Cunha, que transformou a cantora cabo-verdiana Eliana Rosa numa celebridade na cidade. Ela vive uma aspirante a estrela da música que lida com o abuso de produtores e a violência do racismo em Lisboa. Também elogiado pela atuação de sua protagonista (Ilinca Manolache), “Do Not Expect Too Much Of The End Of The World” confirma o espírito irônico, iconoclasta e hilariante do diretor romeno Radu Jude. Ele assina um estudo sobre o sucateamento das relações laborais, centrado no empenho de uma produtora (Ilinca, brilhante) em filmar pessoas que sofreram acidentes de trabalho. O terceiro potencial favorito ao troféu de Locarno é o iraniano “Critical Zone”, de Ali Ahmadzadeh, no qual um sujeito cruza a cidade de Teerã em seu carro a distribuir drogas.