RODRIGO FONSECA
Às vésperas do arranque da Berlinale n. 74, um dos maiores achados do evento alemão de 2023 vira cult no streaming nacional, ao chegar à grade da Amazon Prime: “Dentro” (“Inside”). É um suspense regado a doses de existencialismo.
Eletrizante tanto em suas sequências de tensão quanto em sua reflexão sobre a essencialidade da arte, o filmaço do grego Vasilis Katsoupis s apoia na fúria de Willem Dafoe em cena. Até uns passinhos de “Macarena” ele ensaia, com direito a passar quase uma hora diante de nossos olhos construindo o que pode – na lógica de críticos de arte – ser chamado de “instalação”. O ator foi dublado por um Márcio Simões nas raias da excelência de seu trabalho vocal.
“Vasilis me ofereceu uma espécie de planta arquitetônica em sua dramaturgia, numa geografia espacial única nas telas”, disse Dafoe ao Festival de Berlim, onde foi laureado com o Urso de Ouro Honorário em 2018. “Toda forma de arte que se posiciona em relação às inquietações humanas é política”.
Numa de suas mais inspiradas atuações – e olha que são muitas, vide o recém-lançado “Pobres Criaturas” -, Dafoe encarna um ladrão especializado no roubo de obras de arte. Seu personagem, Nemo, fica trancado num luxuoso apartamento, sem chance de sair, depois que a tentativa de assalto planejada por ele dá errado. Confinado num oásis de concreto, Nemo vai enlouquecendo pouco a pouco, numa narrativa febril.
Vai ter Berlinale 2024 até 25 de fevereiro, sendo que o Urso de Ouro será decidido (e anunciado) pelo júri presidido pela atriz Lupita Nyong’o ao fim do evento.