No último dia de maio de 2024, o duo britânico King Hannah lançou Big Swimmer, o seu segundo álbum. Um álbum bem azeitado com a mistura de folk e indie rock, com tudo o que ele tem direito (e ainda a participação de Sharon Van Etten em duas faixas).
Hannah Merrick e Craig Whittle são muito felizes ao traduzir as claras influências de nomes como PJ Harvey, Yo La Tengo e as atmosferas do Mazzy Star, em algo muito pessoal. Aqui, as levadas folk com guitarras sujas conduzem canções com ótimas sequências harmônicas, melodias profundas e refrões envolventes. “New York, Let’s Do Nothing”, “Lily Pad” e “Davey Says” são ótimos exemplos disso.
Mais ainda: o King Hannah consegue produzir paisagens sonoras cinematográficas como em “Suddenly, Your Hand” e “The Mattress”, num climão que poderia, por exemplo, levar David Lynch a colocar um dos seus personagens num passeio de carro no empoeirado deserto americano.
No meio de tudo isso, a música do King Hannah revela algo bem especial: muitas canções não são cantadas, mas narradas com uma fascinante métrica ritmada.
É essa, aliás, a vibe de “Leftovers”, o single lançado em 2o de fevereiro de 2025, quase um ano depois de Big Swimmer. A canção, no entanto, fazia parte do repertório do disco, mas foi deixada de lado porque Hannah encanou com a letra.
A poesia foi então reescrita, abordando um tema dos mais atuais e relevantes. Ela faz uma metáfora com a ideia de desejar cada vez mais e nunca se contentar e usa um jogo de palavras para passar a mensagem: “Because I eat leftovers until there is nothing left over” (“Porque eu como as sobras até não restar mais nada”).
A capa do single mostra isso com a imagem de restos de comida num prato.
A importância do seu lançamento, no entanto, vai além da apresentação de uma obra. Ele reafirma a relevância do duo de Liverpool no cenário da música alternativa atual. Estamos falando de um trabalho refinado com expressão artística autêntica e realmente sedutora.