RODRIGO FONSECA
Chegou enfim um filme com ar de ganhador de Palma de Ouro na 77ª edição do Festival de Cannes, que andava abilolada com “Megalópolis”, de Francis Ford Coppola: é o encantador musical de tons queer “Emilia Pérez”, do francês Jacques Audiard. É uma mistura de “Maria do Bairro” com “Os Guarda-Chuvas do Amor” onde TUDO dá certo. É novela das nove com cara de Broadway, falado majoritariamente em espanhol. Audiard já foi premiado antes com a Palma, em 2015, por “Dheepan – O Refúgio”, e ganhou o Grande Prêmio do Júri por “O Profeta”. Pode vencer de novo, a julgar pelo entusiasmo que gerou e pelo filmaço que dirigiu.
Na trama, um líder de um poderoso cartel resolve transicionar e assumir sua identidade feminina oprimida numa imagem masculina que rejeitava. Com a ajuda de uma advogada, Rita (Zoe Saldaña, bárbara em cena), o tal chefão, Manita, passa a ser Emilia Pérez, vivida com garbo por Karla Sofía Gascón. Porém, marcas do passado da personagem vão atormentar seu presente nessa produção de direção de arte arrebatadora.
No fim do dia, Nicolas Cage deu o ar de seu carisma na telona de Cannes à frente do thriller mucho loco e muito aflitivo “The Surfer”, do irlandês Lorcan Finnegan. Seu personagem é um homem obcecado por comprar uma casa na idílica praia onde foi criado a fim de pegar ondas com seu filho. Mas um bando de moradores do local, brucutus, impedem-no de chegar às águas, condenando-o a um torvelinho de loucura e violência. A sequência em que Cage mata uma ratazana levou a Croisette à gargalhada.
O Festival de Cannes termina no dia 25. Neste domingo, o balneário confere “A Queda do Céu”, de Gabriela Carneiro da Cunha e Eryk Rocha, inspirado pelo xamã Davi Kopenawa.