Myrna Silveira Brandão
Berlim
O ator e diretor americano George Clooney roubou a cena na 64ª edição do Festival de Berlim. Ele retorna ao festival – mais uma vez na condição de diretor – com Caçadores de Obras-primas (The Monuments Men). A última tinha sido com Confissões de uma Mente Perigosa em 2003.
Seu novo filme, selecionado para a mostra oficial fora de competição, foi exibido hoje (08.02) numa concorrida prévia para a imprensa e à noite será mostrado numa sessão de gala no Palácio dos Festivais.
Baseado numa história real, o filme é ambientado durante a Segunda Guerra Mundial e focaliza um grupo incomum de investigadores criado pelos aliados para irem à Alemanha resgatar obras primas artísticas roubadas pelos nazistas e retorná-las aos seus proprietários legítimos.
A missão era considerada quase impossível: com a arte aprisionada atrás das linhas inimigas e o exército alemão com ordens de destruir tudo se o Reich caísse, como poderia esse grupo – composto por diretores de museu, curadores e historiadores de arte – ter esperanças de ser bem sucedido?
Mas os Homens Monumentos, como eles eram chamados, numa corrida contra o tempo para evitar a destruição de mil anos de cultura, arriscaram suas vidas para proteger e defender algumas das maiores obras da humanidade.
O filme aborda um assunto que voltou à tona com a descoberta das 1.400 obras de artes num apartamento de Munique. A coleção de objetos encontrados agora inclui obras primas de Marc Chagall, Max Liebermann, Ernst Ludwig Kirchner, Oskar Kikoschka, Edward Munch, Emil Nolde e Albrecht Durer. Mas ainda faltam serem encontrados milhares de bens culturais e documentos que valem bilhões de dólares.
O ótimo elenco conta com Matt Damon, Bill Murray, John Goodman, Jean Dujardin, Bob Balaban, Hugh Bonneville e Cate Blanchett.
O roteiro foi escrito a quatro mãos por Clooney e Grant Heslov, com base no livro “Caçadores de Obras-primas – Salvando a Arte Ocidental da Pilhagem”, de Robert Edsel e Bret Witter (Ed. Rocco). A dupla – ganhadora do Oscar do ano passado como produtora de Argo – também é responsável pela produção de Caçadores de Obras-Primas.
Na coletiva, com gente saindo pelo ladrão – e dezenas de jornalistas amontoados em frente a um telão fora do grande auditório – Clooney, acompanhado de Damon, Murray, Goodman, Dujardin, Boneville e Heslov, disse que o filme não mostra apenas a luta por obras de arte.
“Não se tratava de salvar um quadro, uma escultura, mas sim uma cultura. Os Caçadores não eram soldados comuns. Eram historiadores de arte, pintores, escultores, arquitetos, artistas, que foram recrutados para uma missão muito especial”, ressaltou, destacando que até hoje centenas de obras continuam desaparecidas.
“O filme tem a missão de mostrar também que roubos e destruição de obras da humanidade infelizmente não são coisas do passado. Aconteceu há pouco tempo no Iraque e está acontecendo na Síria. É uma questão real e urgente”, ressaltou.
Concordando com Clooney, Damon acrescentou que não seriam apenas as obras que seriam destruídas.
“Seria o desaparecimento de uma civilização inteira, da cultura dos povos. A questão não é apenas salvar porque a arte é bonita, mas também e principalmente pelo que ela representa”, afirmou o ator, que no filme interpreta James Granger – papel inspirado em James Rorimer, que se tornou o diretor do Metropolitan Museum of Art.
Para Clooney, o filme pode ajudar muito em novas descobertas e também na divulgação do fato para as gerações futuras.
“Sabemos que muitas obras descobertas pelos Caçadores, foram devolvidas e reparadas. Isso é bom, para que não volte a acontecer”, disse Clooney, apoiado por Heslov.
“Sei que há muita coisa perdida ainda, na França, na Rússia, mas é um longo processo. É preciso entender o quão importante arte é para a humanidade. Se este filme levantar alguma discussão, já estaremos satisfeitos”, declarou.
Clooney não escapou de falar se entre ser ator ou diretor, por qual das funções seu coração balança.
“O trabalho de dirigir, escrever e produzir é diferente de atuar, adoro os dois. Dirigir sempre traz um frio na barriga. A diferença é que a gente aprende muito entre um filme e outro. Tanto dirigir como escrever exige muita criatividade e eu gosto muito disso”, ressaltou.