Rodrigo Fonseca
A mil por hora, aos 63 anos de vida, o realizador sul-coreano Hong Sang-soo vai fechar 2023 esta noite com 125 filmes em seu currículo, e com mais um longa já previsto para Berlinale, em fevereiro. Tudo indica que haverá mais um por vir, lá pelo segundo semestre. Essa marca faz do diretor de “Noite e Dia” (2008) e “Você e os Seus” (2016) um dos cineastas mais prolíficos do mundo na atualidade. Além de dirigir, ele se destaca como roteirista, montador e compositor.
Há uma covalência de nível sublime entre ele e sua conpanheira, a atriz e produtora Kim Min-hee. A presença dela se nota em tudo o que ele faz, incluindo seu trabalho mais potente em 2023: “In Water”. Sua vitrine de arranque foi a mostra Encontros, do Festival de Berlim. Trata-se de um doce painel de vivências, erguido a partir das filmagens de um curta-metragem. Ele é a súmula do processo essencial à estética de conversações do aclamado realizador de “Hahaha” (Prêmio Un Certain Regard de 2010, em Cannes), cuja artes calca na observação. Sua trama se passa quase inteiramente numa região praiana, com papos sobre taekwondo, iguarias à base de arroz, amor e projetos pro futuro. Um cinema assim é possível porque seu criador observa as situações mais corriqueiras da vida, como o balanço de um capuz à força de um vento litorâneo e a combinação de arroz com soju, espécie de Caninha da Roça da Coreia do Sul. Observar é o caminho que Sangsoo (seu nome é grafado “Sang-soo” em algumas fontes) utiliza para erguer uma dramaturgia personalíssima, que já rendeu indicações a umas 180 láureas, das quais 60 ele levou pra casa.
“Consigo filmar assim, com liberdade, por seguir um método em que eu escrevo, fotografo e dirijo sozinho, confiando papéis e funções técnicas a amigas e amigos e contando com a minha mulher para produzir”, disse Hong ao Lab Pop no Festival de San Sebastián. “Eu filmo situações do dia a dia que são simples. Não preciso de efeitos especiais. Eu mesmo opero a câmera. Só preciso de alguém para captar o som. Com isso, o orçamento é pequeno. A montagem fica por minha conta também”.
Estima-se que seu novo longa siga nas trilhas do P&B, que dá o tom visual de seus melhors longas.
“Não opero a partir de códigos cartesianos ou de processos teóricos. A alternância do preto e branco com imagens coloridas na minha filmografia não vem de uma tese racional. Nada do que faço vem, pois não estabeleço rizomas ou equações na minha forma de ver o cinema”, diz Hong. “O P&B é mais uma reminiscência, o resquício de algo que me pede uma reação fílmica em preto e branco. Cresci vendo clássicos do cinema que eram P&B”.
Em 2024, ele promete surpresas…