ROBERT HALFOUN, DE LYON (FRANÇA)
Um conto de fadas sombrio, gelado. Repleto de climas, às vezes psicodélico, a partir de sintetizadores com textura vintage, baixão treme-terra, notas limpas de guitarra e voz de ninfa que sussurra no seu ouvido. Assim é “Undir köldum norðurljósum”, o disco mais emblemático do trio das islandesas de Reykljavlk, a capital da terra do gelo. Assim é o grupo ao vivo, no palco do Transbourder, umas casas de shows mais legais de Lyon. O Kaelan Mikla (“donzela do frio”, em islandês) abre para a diva gótica Chelsea Wolfe e tem muita gente por aqui que não sabe o que esperar quando as três meninas com saias rodadas, muita renda e maquiagem bem marcada tomam a frente do palco.
Escuro, apenas com luzes azuis colocadas basicamente atrás da banda. Isto é, vemos silhuetas que se movimentam fantasmagoricamente. A cena é boa, o clima é ótimo e o som… Bem, o som é melhor ainda. Tudo no lugar, com vibrações que parecem estremecer as paredes. As influências de post-punk e gótico dos anos 1980 são claras. Mas elas vão além, na chamada “cold wave”. Especialmente quando as melodias ecoam a partir da suavidade de uma flauta transversal, como uma bruma sonora que faz o conjunto ficar ainda mais interessante.
As músicas surgem coladas umas nas outras, com mínimas pausas aqui e ali. Elas não falam nada, mas reagem com graça às reações do público. O roteiro é esotérico tanto para ser ouvido como para ser visto. Quem se deixa levar, viaja. Sejam em momentos perturbadores e barulhentos ou em outros, absolutamente relaxantes.
Curioso como, apesar da atmosfera onírica, tudo soa muito natural. E termina, sem alarde, assim como começou. É quando a iluminação frontal finalmente é acesa e vemos a vocalista Laufey Soffía agradecer com vozinha de menina (meio Björk no início da carreira) e se despedir dirigindo-se à plateia, fazendo coração com os dedos.