74. Berlinale, Cinema

‘La Cocina’ vira o prato principal da corrida pelo Urso de Ouro de 2024

Por Laboratório Pop

RODRIGO FONSECA
Congelando neste sábado sob um frio de nove graus, a Berlinale se mantém fiel o esplendor de “La Cocina”, encarado como o filme de maior potência da disputa pelo Urso de Ouro até agora, o que eleva o cacife de seu diretor, o mexicano Alonso Ruizpalacios. Ele se fez notar ao ganhar o Prêmio de Roteiro do 68. Festival de Berlim com o thriller “Museu”, e voltou a despertar paixões com “Um Filme de Policiais”, da Netflix, também visto e premiado pelo evento alemão no passado, em 2021. Mas seu novo exercício autoral (há um traço naturalista de linha funcinalista recorrente na filmografia dele) sinaliza um apogeu criativo.
Raúl Briones é o ator que mais (e melhor) calça a sua proposta, similar ao que se vê na série “O Urso”, de cartografar as pulsões de inquietude numa cozinha. Briones é Pedro, cozinheiro amado por muitos em um fino restaurante de Nova York, que funciona como um microcosmos do atual estado de coisas de uma América repleta de imigrantes. Rooney Mara é a atendente Julia, que está grávida, mas deseja abortar.
Sua descisão parece ser a fontes das tristezas de Pedro, abalado ainda pela opressão que vive por lá. É um estudo sobre xenofobias, parcerias, passadas de perna e um projeto de integração multinacional construído com acurada reflexão sociológica. A narrativa aeróbica nervosa, P&B, ora de planos longos, ora de cortes súbitos, evoca “Birdman” (2014).

“Above The Dust”

Ainda na briga pelo Urso de Ouro deste ano, não se pode (nem se deve) esquecer a boa atuação de Cillian Murphy e a impecável dramaturgia de Enda Walsh em “Small Things Like These”, um drama irlandês sobre os abusos da Igreja. Um achado aqui é “Hors du Temps”, o filme mais confessional do francês Olivier Assayas (de “Personal Shopper”), com forte tom cômico, graças ao desempenho do cada vez mais engraçado Vincent Macaigne.
Fora de concurso, nada supera o avassalador “Treasure”, de Julia von Heinz, que marca a volta (em grande estilo) do mito queer Stephen Fry. É uma história de pai (Fry) e filha (Lena Dunham, de “Girls”) que viajam pela Polônia, nos anos 1990, à cata de memórias do Holocausto. Merece destaque também “Wo Tu”, título original do drama chinês “Above The Dust”, de Wang Xiaoshuai (de “So Long, My Son”). É um painel histórico da Revolução Cultural visto pelos olhos de um guri de 10 anos.
A Berlinale segue até o dia 25 de fevereiro.