O Rio é notoriamente um lugar difícil de fazer shows, seja pela cultura de música ao vivo fraquíssima que temos, seja pela concorrência com a praia, seja pela política de “sou artista ou alguém conhecido e não pago para entrar em lugar nenhum”. Essa última política foi amplificada pelo advento dos influencers, que praticamente fez com que toda grande turnê escolhesse lugares como Uberlândia, Ribeirão Preto, Curitiba, em detrimento da cidade maravilhosa.

Só por isso é um grande alento a existência do Queremos Festival, que em sua quarta edição aconteceu na semana passada na Marina da Glória. Apesar da escalação equivocada que funcionaria muito melhor para um Tim Festival ou até mesmo o novíssimo C6 Festival, entre trancos e barrancos, o evento contou com um bom público, que chegou apenas na hora da headliner, Marisa Monte. Esse é um problema de você ter um headliner maior que a marca do festival. Desde semanas antes, não se escutava ninguém falar sobre o festival Queremos é apenas sobre o show da Marisa Monte na Marina da Glória. Não que Marisa não mereça todas as atenções, seu novo show é uma verdadeira força da natureza, mostrando uma artista completa em seu auge musicalmente, mas isso depõe contra toda a cultura que o Queremos quer atrair em seu entorno.

Com uma programação que privilegiou a música preta brasileira lacradora, o festival foi de Rachel Reis e Rico Dalasam ao MC Poze do Rodo (completamente deslocado tanto no lineup quanto no festival em si), passando pela cota trans com Liniker e trazendo pela primeira vez aos cariocas aquele que provavelmente será eleito a turnê do ano por aqui, a sensacional junção do Baianasystem Russo Passapusso com a dupla sessentista Antônio Carlos & Jocáfi. Ao vivo funcionou perfeitamente bem o panfletarismo de Passapusso com a forte poesia política da dupla. Por falar em dupla, foram duas as atrações internacionais do festival. A cantora londrina Yasmin Lacey, integrante do coletivo London Brew, fez um showzaço no fim da tarde assistido por poucos, misturando soul e jazz com canções calmas e suaves que mereciam um lugar melhor para serem escutadas. Já o grupo Cymande, uma das lendas dos Anos 70, trouxe sua mistura de música africana com Soul e Disco em versões gigantescas de cada música, que cresceram muito em peso executadas ao vivo.

A desejar fica a estrutura do lugar, chão de terra que virou um lamaçal com a tempestade que caiu durante todo o show de Marisa Monte. Um festival que se diz da família, que pedia para trazer os filhos, não poderia ter uma infra estrutura tão precária, sem nenhum lugar coberto de onde se pudesse minimamente assistir aos shows. Bola fora de um festival que, apesar dos cariocas não merecerem, já se firmou no calendário cultural da cidade.

Quer conhecer mais? Visite o Laboratório Pop. Siga nosso conteúdo no Instagram e no Twitter.