Myrna Silveira Brandão, de Berlim
A 64ª edição do Festival de Berlim, iniciada em 6 de fevereiro é uma festa de opções com filmes de todos os gêneros, diretores consagrados e atores cultuados ou no auge da fama. Mas, nesta segunda (10), o veterano diretor francês Alain Resnais fez a cena, mesmo não podendo estar por aqui.
A idade avançada do cineasta impediu sua vinda à cidade para prestigiar a concorrida sessão de gala de “Aimer, boire et chanter”, seu novo filme candidato ao Urso de Ouro.
O filme é baseado na peça “Life of Riley”, de Alan Ayckbourn e marca uma nova parceria de Resnais com o dramaturgo britânico, de quem já tinha adaptado para as telas a comédia “Smoking/No smoking” (1993) e “Medos privados em lugares públicos” (2006).
No estilo teatro filmado, como tem sido ultimamente característica do diretor, a história começa com um grupo de amigos chegados descobrindo que um deles tem poucos meses de vida. A terrível notícia terá inesperadas repercussões no círculo dos amigos.
Como sempre, Resnais traz no elenco nomes sempre presentes nos seus filmes: Sabine Azéma, Hippolyte Girardot, Sandrine Kiberlain, André Dussollier, Caroline Silhol e Michel Vuillermoz.
E, metódico como costuma ser, apenas colaborou no roteiro – que foi adaptado por Laurent Herbiet e Caroline Silhol – já que é conhecido por não gostar de roteirizar seus filmes.
“Até agora meus filmes e a forma de me relacionar com os colaboradores tem sido assim. Minha motivação no cinema está mais ligada ao trabalho com os atores, aos entendimentos com a equipe técnica e ao desenvolvimento da filmagem”, ressalta Resnais, por sua vez um excelente diretor de atores, conseguindo sempre deles um desempenho sútil e envolvente que dá credibilidade aos personagens e aos dramas retratados, como é o caso dos acontecimentos inesperados da vida neste “Aimer, boire et chanter”.
Embora possa ser considerado como um legítimo representante do chamado cinema de autor, Resnais não se considera assim.
“Na equipe de um filme tem muita gente: o roteirista, o cenógrafo, o fotógrafo e eu não dirijo nenhum deles. A minha relação com eles é de troca e de parceria e não de autoria”, ensina o cineasta francês, que se manifesta bastante otimista com relação ao futuro do cinema.
“Eu não acredito que o cinema corra o risco de morrer, como costumam dizer. O encanto e a magia que ele tem não mudou em 100 anos e não creio que vá mudar daqui em diante”, atesta um Resnais em plena vitalidade, dando continuidade a uma sólida carreira de mais de 70 anos, que inclui clássicos inesquecíveis como “Ano passado em Marienbad” e “Hiroshima, meu amor”.
Aos 92 anos, Resnais está de volta à competição da Berlinale, onde ganhou um Urso de Prata pela originalidade de “Smoking/No smoking” em 1993 e um por sua contribuição à arte do cinema em 1998. “Aimer, boire et chanter” tem muitas qualidades e captura os espectadores, mas mesmo que não seja um dos melhores filmes de sua carreira, não será surpresa – e nada mais merecido – se o veterano cineasta sair daqui com algum prêmio embaixo do braço.
Ensaio sobre a cegueira
“Blind massage”, de Lou Ye, representante da China, também foi mostrado na programação do dia.
Baseado no premiado livro “The blind”, de Bi Feiyu, a história segue Nanjing que reside numa irmandade de massagistas cegos especializados na terapia Tuina, considerada como parte integrante da medicina tradicional da China.
O cotidiano e os costumes que envolvem o centro de massagens, as alegrias e as tristezas compartilhadas entre os companheiros de trabalho, ou as experiências amorosas são descritas pelo realizador em tom contemplativo, que por vezes se torna monótono.
Em última análise, o filme é um cálido retrato sobre a cegueira e as vicissitudes da vida.
O elenco conta com Guo Xiaodong (“Motorway”), Qin Hao (habitue do cineasta que já apareceu tanto em “Mystery” como em “Spring fever”) e Zhang Lei (“Little moth”)
Esse é o oitavo longa-metragem de Ye, que teve problemas com a censura na China por causa de seu tocante drama político “Summer palace”.