Rodrigo Fonseca
Três anos atrás, coube a uma comédia argentina a tarefa de encerrar o Festival do Rio: na ocasião, os diretores Gastón Duprat e Mariano Cohn levaram o Odeon às gargalhadas com “O cidadão ilustre”, produção internacionalmente premiada, que fez da dupla uma referência de excelência na crônica de costumes. Preocupados com o universo artístico, eles têm uma produção inédita no circuito nacional: “Minha obra-prima”, sucesso de bilheteria nas salas exibidoras de nuestros hermanos sul-americanos, hoje em cartaz no país. Em sua passagem pelas gôndolas venezianas, este ensaio sobre lealdade, batizado originalmente de “Mi obra maestra”, seduziu críticos com deliciosos diálogos. Aqui, Duprat e Cohn estudam o que existe de vaidade no universo das artes plásticas. Sua trama se calça no desconforto e no constrangimento. Essas são as palavras que regem a longeva parceria entre o marchand Arturo (Guillermo Francella), dono de uma galeria cheia de conceitos estéticos duvidosos, e o pintor irascível Renzo (Luis Brandoni), cujas pinceladas são carregadas de preguiça crônica e de um refinado mau humor.
“Tentamos mostrar aquilo que o ser humano tem de mais tenso em situações desconfortáveis: nelas, qualquer um revela o que é. Nossos filmes carregam uma identidade no cuidado que a gente tem de alternar situações atrapalhadas com problemas concretos da sociedade. Por isso, em geral, nós mesmo fazemos a concepção visual, sobretudo o Mariano Cohn, que tem mais virtudes técnicas”, disse Duprat ao Lab Pop. “Essa visita ao universo da pintura é uma forma de levar para um território plástico o debate sobre o que é ser autoral nos dias de hoje”.