Myrna Silveira Brandão, de Nova York
“À sombra de uma mulher”, de Philippe Garrel, foi a atração desta quinta-feira (24.09), nas sessões de imprensa da 53ª edição do Festival de Nova York. O filme também integra a seleção do Festival do Rio (01 a 14.10.15). O novo trabalho do diretor francês (que volta ao NYFF onde esteve em 2005 com “Amores constantes” e em 2013 com “O ciúme”) é centrado nas dificuldades do relacionamento humano e dirige um olhar acurado para a infidelidade. Não meramente pelo fato em si, mas pelas formas divergentes entre homens e mulheres quando essa experiência acontece.
Filmado em P&B, o filme segue Pierre (Stanislas Merhar) e Manon (Clotilde Courau), um casal trabalhando em frágil harmonia em projetos de filmes documentários.
Quando Pierre assume uma amante (Lena Paugam), ele acha que tem o direito de fazê-lo, e trata tanto a esposa quanto a amante com displicência, quase chegando ao desdém.
O elenco também conta com Louis Garrel (filho do diretor), que faz a narração do filme. O ótimo roteiro foi escrito a quatro mãos pelo veterano Jean-Claude Carriére, Garrel, Arlette Langmann e Caroline Deruas.
Vindo de Cannes, onde abriu a prestigiada Quinzena dos Realizadores, foi bem recebido aqui, onde o diretor de 67 anos é bastante cultuado.
Garrel conta que a opção pelo P&B se deveu inicialmente à necessidade de reduzir custos.
“Sem cores não é necessário maquilagem para os atores, bem como para os cenários em que há decorações. Também não preciso me preocupar com grandes caminhões para a equipe técnica, o que facilitou muito porque filmamos em um perímetro de 800 metros quadrados de um bairro central de Paris”, explica, acrescentando que isso também possibilitou a otimização do tempo.
“Nós partimos de um cenário e roteiro bem definidos, não houve improvisações e, de certa maneira, isso contribuiu para obter o resultado que eu havia imaginado em minha mente”, ressalta.
Embalado pela trilha sonora de Jean-Louis Auber, mesmo em seus momentos mais dramáticos, o filme não perde o tom lírico e bem-humorado. Para Garrel, é perfeitamente natural os risos da plateia para um tema tão sério.
“Penso que fazer rir é algo que faz bem para nós e para todos. E acho que o cinismo da infidelidade sempre provoca risos nervosos, já esperava por eles”, destaca o diretor, explicando sua atração pelo tema.
“Por mais que os anos passem, acabo gravitando em torno de meus assuntos favoritos, como o amor e o relacionamento humano”.
Ao falar da parceria com Louis Garrel, um dos atores mais requisitados da safra jovem do cinema francês, o diretor assume seu lado pai.
“É ótimo trabalhar com ele. Da mesma forma que fui influenciado a filmar pela profissão de meu pai acabei trazendo meu filho para o mesmo universo (Philippe é filho do ator Maurice Garrel – 1923/2011). Estamos ligados pelo sangue e pelo cinema”.