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Myrna Silveira Brandão, de Nova York

 

“Mountains may depart”, novo filme de Jia Zhang-Ke, mostrado nesta segunda (28.09), numa prévia para a imprensa da 53ª edição do Festival de Nova York,  é crítico das transformações do seu país, assim como em  “Plataforma”, “Prazeres desconhecidos”, “24 City” e “Um toque de pecado. O cineasta desta vez incursiona pelo viés do melodrama, mas mantém fidelidade ao seu tema.

 

Para explorar as contradições do país asiático, o filme entrelaça períodos históricos diferentes usando um triângulo amoroso formado por Tao (Zhao Tao), Liangzi (Liang Jin Dong) e Zhang Jinsheng (Zhang Yi). Conhecido por trabalhos contemplativos, quase documentais, o diretor chinês usa diferentes texturas de imagem para construir o visual do filme, distorcendo as cenas com granulações e efeitos de filtros coloridos.

 

Representante da geração chinesa obcecada em documentar as mudanças na China, o cinema de Zhang-Ke tem também um toque de denúncia. Neste – que concorreu à Palma de Ouro no último Festival de Cannes – o diretor faz uma análise sociológica bastante plausível das angústias e problemas da população do País.

 

Na coletiva após a projeção – moderada por Kent Jones, diretor do festival – Zhang-Ke explicou o tom documental do drama e o processo que utiliza para contar suas histórias.

 

“Meus filmes têm um componente de ficção, mas com um viés  na realidade, no contexto político e nas transformações do meu país. Eles refletem minha opinião e meu pensamento”, disse Zhang-Ke, ressaltando que os fatos ocorridos anteriormente ajudam a entender o mundo atual. “Tenho certeza de que o passado explica o presente. Às vezes, para entender o que ocorre hoje, é preciso recuar no tempo. Acho que os problemas da China contemporânea têm suas raízes em fatos de outrora”, complementou Zhang-ke, destacando que a tecnologia desenfreada e o consumismo excessivo estão mudando o pensamento das pessoas.

 

Para ele, os seres humanos estão perdendo as relações e as lembranças na medida em que o tempo passa.

 

“Há muito mais isolamento do que conexões humanas”, lamentou o cineasta, contando que um dos desafios para realizar o filme, foi integrar os diferentes períodos.

 

“Mas foi preciso dividir o filme em episódios porque eu queria mostrar a China de agora – com internet, estradas modernas etc. – e os anos 1999, quando a história começa”, explicou.

 

Zhang-Ke é tema do excelente documentário – “Jia Zhang-ke: um Homem de Fenyang” – dirigido por Walter Salles, que estreou no Brasil em 03.09 último. O filme de Salles também foi selecionado para esta edição do NYFF na prestigiada paralela Spotlight on Documentary.