Myrna Silveira Brandão, de Nova York
A première mundial de “A travessia”, de Robert Zemeckis, abriu nesta sexta-feira (27.09) para o público a 53ª edição do Festival de Nova York. A tradicional abertura numa sexta feira foi transferida para o sábado. Conforme divulgado pela organização do evento, a decisão foi tomada por razões de segurança e logística, devido à presença do Papa Francisco na cidade. O diretor americano retorna ao festival, onde em 2012 se destacou com o seu “O voo”, filme de encerramento. “A Travessia” é o segundo filme em 3D selecionado para a Noite de Gala de Abertura, desde “As aventuras de Pi”, de Ang Lee, em 2012. Mostrado numa concorrida prévia para a imprensa poucas horas antes da estreia, o aguardado novo trabalho de Zemeckis – protagonizado por Joseph Gordon-Levitt – foi recebido com aplausos da plateia de jornalistas presente à sessão.
O filme é a história real de Philippe Petit, que atravessou o espaço entre as Torres Gêmeas andando num cabo de aço. A ação ocorreu, de forma ilegal, em 1974, e ganhou destaque no mundo todo.
O roteiro é baseado nas memórias de Petit, no livro “To reach the clouds”.
Ao apresentar o filme, Kent Jones, diretor do NYFF, disse que “A travessia” é surpreendente em muitos aspectos.
“O primeiro deles é que ele aparece como um filme clássico na tradição de “The asphalt jungle” (“O segredo das joias”, de John Huston, 1950) – o planejamento, os ensaios, a execução, os problemas de última hora – mas neste filme não é o dinheiro que é roubado, mas o acesso aos prédios mais altos do mundo. É um fato raro e incrível ocorrido em Manhattan nos anos 70”, declarou Jones, acrescentando que o filme deixa os espectadores eletrizados na cadeira.
Zemeckis afirmou que está extremamente honrado e agradecido que o filme tenha sido selecionado para abrir a 53ª edição do NYFF.
“The Walk é uma história nova-iorquina, portanto eu estou feliz de apresentá-lo primeiramente aqui em Nova York. Minha expectativa é que as audiências do festival mergulhem no espetáculo, mas também sejam capturadas pela celebração do artista que ajudou a dar alma às maravilhosas torres”, acrescentou.
Sobre sua motivação para fazer o filme, Zemeckis contou que tudo começou quando ele leu o livro sobre essa travessia.
“Eu quase não podia acreditar numa história tão fantástica. Penso que a arte pode ser subversiva, anarquista, apresentar um outro ângulo ou, de certa forma, alguma poesia”, complementou o diretor, referindo-se ao fato de a aventura de Petit ter sido realizada de forma ilegal.
Para viver o protagonista, Gordon-Levitt começou a treinar numa corda esticada a poucos centímetros do chão, distância que foi sendo aumentada até quatro metros do solo, na medida em que foi se sentindo mais confiante. Mas mesmo assim precisou de um bom tempo para ficar mais relaxado.
“Quando estava em cima da corda, eu tentava me convencer de que nada iria acontecer porque eu estava preso por um cabo de segurança e numa altura muito menor do que a de Philippe nas Torres Gêmeas, mas mesmo assim senti muito medo durante a produção do filme”, confessou o ator, reconhecendo que as conversas com Petit o ajudaram muito.
“Não há registros em filme sobre uma façanha como essa, assim ele era a melhor pessoa para nos ajudar. Philippe me disse que também sentia medo, mas não deixava que isso o dominasse já que era parte de sua motivação”, disse o ator, contando que ele procurou explicar cada detalhe técnico, exatamente como ocorreu na ocasião.
“Enquanto me instruía, Philippe conversava sobre arte, beleza, vida, morte, ele é uma pessoa fascinante e foi muito generoso”, completou.
A aventura de Petit já tinha sido levada ao cinema no documentário “O equilibrista”, de James Marsh, vencedor do Oscar de 2009.
“A travessia” tem previsão de estreia no Brasil em 8 de outubro, mas antes será mostrado no Festival do Rio (01 a 14.10).