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Por Myrna Silveira Brandão, de Nova York

 

Heaven knows what, de Ben e Joshua Safdie,  traz momentos de desconforto, impacto e muita reflexão.  A verdade é que poucos conseguem ficar indiferentes ao final do filme, que foi mostrado nesta quinta (18)  numa prévia para a imprensa do Festival de Nova York.

 

O roteiro, inspirado no livro Mad love in New York City, de Arielle Holmes, foi escrito pelos irmãos Safdie e Ronald Bronstein e é um milagre de concisão. Holmes também protagoniza o filme numa atuação eletrizante.

 

Tendo como cenário as grandes edificações nova-iorquinas, o  filme dos irmãos cineastas aborda a rotina de um casal viciado em drogas e sua luta pela sobrevivência.

 

Eles são  Ilya (Caleb Landry Jones) e Harley (Holmes) dois jovens drogados inveterados, desocupados  indigentes vivendo em uma imensa e sofisticada Nova York que os ignora.  Mas a história poderia se passar em qualquer parte do mundo.

 

Incomodados, desconcertados e atônitos,  os espectadores vão acompanhando  situações que, fazem parte do cotidiano dos personagens –  tentativas de suicídio, compra e venda de drogas, brigas ou sexo em plena rua – mas que escapam à  sua compreensão, não apenas por serem tão dramáticas, mas principalmente por estarem aparentemente  bem distantes de suas vidas.

 

Os decadentes e autodestrutivos personagens conseguem a simpatia da audiência através principalmente do drama vivido por eles que se coloca frente a todos  irremediavelmente.

 

O extremo realismo jogado na tela, o respeito dos diretores pelos protagonistas e os suficientes rasgos de ficção se misturam a  uma reconstrução documental.

 

A competente cinematografia de Sean Price Williams, expressa a visão turva dos jovens que não podem sequer imaginar o quanto eles são invisíveis aos nova-iorquinos com seus tetos e empregos  garantidos.

 

Os irmãos diretores, no seu filme mais duro até agora,  dirigem um elenco composto, na maior parte, de atores estreantes que desaparecem nos seus personagens.

 

Os protagonistas, por sua vez, assumem  seu papel em uma sociedade que os marginalizou  mas, ao menos, não perderam sua  identidade, ainda que seja apenas em seu reduzido mundo.

 

Na coletiva após a projeção – da qual participou o Laboratório Pop – os diretores se revezaram nas respostas sobre a origem do filme e o desejo que a história do casal cale fundo na alma dos espectadores.

 

Ben Safdie contou que eles  estavam buscando um patrocínio  para outro filme com Holmes, sem saber que ela tinha sido indigente e drogada.

 

“Daí nos demos conta que havíamos escrito sua própria história, que foi base para o filme sobre a vida de uma adolescente viciada”, disse o diretor, contando que houve muitas dificuldades para realizar as filmagens.

 

“É muito difícil filmar nas ruas em Nova York. Inicialmente, é necessário ter uma permissão especial das autoridades.  Outro problema é que em todos os locais tem muita gente, muitos curiosos.  Eles passam, param, ficam olhando  e, a depender da cena, é preciso interromper”, explicou, acrescentando que o som também foi um problema sério.

 

“O  som da rua é muito forte e às vezes ele ficava dominante na cena. Filmar em Nova York é muito complicado.”

 

Joshua contou que foi necessário fazer algumas adaptações no roteiro que tem 150 páginas.

 

“Evitamos principalmente colocar nomes de pessoas da família, das pessoas viciadas, mas de modo geral, ele  espelha a realidade dos drogados”, ressaltou revelando os resultados que espera com o filme.

 

“As  imagens mostradas na tela são de um mundo invisível para a maioria das pessoas. Eu espero que os espectadores prestem mais atenção a uma parte da sociedade que muitas vezes passa ao largo para eles”, concluiu.

 

O filme é também uma das atrações do Festival do Rio (24 de setembro a 08 de outubro).