Carlos Augusto Brandão, de Nova York
Joel e Ethan Coen têm cadeira cativa aqui no Festival de Nova York e seus filmes são sempre aguardados com expectativa e casa cheia. Foi o que aconteceu na sessão prévia para a imprensa de “Inside Llewyn Davis”, o novo filme dos cultuados diretores. A história é ambientada na cena musical de Nova York em 1961 quando as folk songs predominavam e abriram caminho para Bob Dylan. Num viés de tragicomédia, o filme segue um cantor fictício, Llewyn Davis, e sua busca pela fama e algum dinheiro que, pelo menos, lhe garanta a sobrevivência. Ele é a soma de vários outros que surgiram na época.
Com pitadas de humor negro, característica da obra da dupla, o filme é inspirado no livro “The Mayor of MacDougal Street”, do músico Dave van Ronk, resultando numa parábola sobre sucesso e fracasso. Ronk fez parte da cena musical folk de Greenwich Village nos anos 1960. O guatemalteco Oscar Isaac interpreta Davis e o bom elenco inclui John Goodman (ator fetiche dos Coen) e jovens estrelas como Carey Mulligan e Justin Timberlake, que também compôs músicas para a trilha.
Há ainda um gato, que acompanha o músico, um personagem na trama. E, como se trata também de um road movie, não é por acaso que ele se chama Ulisses, uma alusão ao célebre romance do escritor irlandês James Joyce.
O LABORATÓRIO POP participou da coletiva com Joel e Ethan, que, acompanhados de Isaac e Goodman, revezaram-se nas respostas para falar sobre a realização do filme.
“Sempre estivemos interessados na música desse período, o chamado renascimento da música folk no final dos anos 50 que estava tomando conta do Greenwich Village antes de o Bob Dylan aparecer. Esse período durou apenas até o início dos anos 60 e as pessoas nem se dão conta disso”, contou Joel. “Muito mais do que sucesso e fracasso, o filme é sobre transição Não queríamos falar do movimento que teve Bob Dylan como transformador, mas da cena que lhe abriu caminho”.
Um ponto alto do filme é a ótima interpretação de Isaac, que dá a medida certa para os momentos tragicômicos que vive o personagem.
“A escolha do elenco foi um grande desafio. Até Isaac aparecer, estávamos travados, pois precisávamos de um ator que tocasse e cantasse bem. Ele foi fantástico, estamos convencidos de que não poderia ter sido outro”, elogiou Ethan”.
Isaac, por sua vez, disse que quando recebeu o telefonema de Joel avisando que ele seria o protagonista custou a acreditar.
“Sempre fui fã dos dois e vi todos os seus filmes. Paralelamente amo a música folclórica dessa época. Quando li em algum lugar que eles iriam fazer um filme com o tema, imediatamente achei que poderia estar no elenco. Fiz o teste com quatro ou cinco cenas, gravei uma delas com a música “Hang me” e passei um mês agoniado, até me sentir nas nuvens com o telefonema do Joel”, afirmou Isaac, ator treinado, de forma clássica, na Juilliard School de Nova York.
Quanto a Goodman, Joel contou que o personagem foi criado especialmente para ele.
“Nós já tínhamos feito cinco ou seis filmes com John e, de alguma forma, queríamos tê-lo novamente trabalhando com a gente. Por isso criamos o Roland, que tem uma função específica na história”, revelou o diretor, com a concordância do ator.
“Roland pode parecer estranho ou meio maluco para muitas pessoas, mas para mim é apenas um cara normal, há muitos como ele. Eu estava mais do que pronto para o trabalho,pois sou fã dos personagens criados por Joel e Ethan, principalmente pelo seu lado humano mais óbvio”, ressaltou Goodman.
“Inside Llewyn Davis” é, em última análise, mais um filme com a assinatura inconfundível dos Coen. E, embora não seja especificamente sobre Dylan, ele é retratado discretamente ao final do longa, cantando Farewell.
“Quisemos sublinhar sua participação no cenário que estava surgindo, ele é o ápice desse tipo de música”, elogiou Joel, o mais velho dos dois, com 58 anos, ao lado de Ethan, de 54.