Por Myrna Silveira Brandão, de Nova York

“Child of God”, de James Franco, foi destaque nas prévias para a imprensa do  Festival de Nova York (27 de setembro a 14 de outubro para o público). Em coletiva de imprensa, o ator e diretor disse que o tema da solidão é recorrente em sua carreira e que considera a sensação fascinante.

O novo trabalho de Franco incomodou pela agressividade do tema e pela violência com que é abordado.

A história é adaptada do livro homônimo de Cormac Mc Carthy, escritor que é conhecido por sua visão pouco otimista da humanidade, algo que Franco faz questão de manter em seu filme.

O roteiro segue Lester Ballar (Scott Haze), um homem que cresceu sem pai e mãe, entregue à própria sorte, que tenta viver à margem de uma pequena comunidade do interior do Tennessee, nos anos 1950. Violento e hostil, Ballar tem um profundo desprezo pelos seus semelhantes e nenhuma habilidade para o convívio social.

Após a projeção, Franco conversou com a imprensa sobre o filme e sua carreira. Leia os principais trechos:


O que atraiu você para essa história?

James Franco: Inicialmente, o livro. Eu sou um grande fã de Cormac McCarthy e li todos os livros dele. A primeira vez que eu li “Child of God” foi na UCLA, há cerca de sete anos atrás e foi uma aula sobre McCarthy. Eu leio muito e algumas coisas que eu leio, quero me envolver um pouco mais com o livro. Com este, eu tive essa sensação de imediato.

É um filme sobre o isolamento?

JF: Isolamento é um assunto que aparece em muitos filmes que fiz. O personagem de “Child of God” também lida com a solidão, a compulsão incontrolável, bem como com o  impulso artístico. Eu fiz um filme sobre outro artista, Hart Crane, que também se isolava, era um poeta solitário e em seu isolamento, sua imaginação florescia em poesia. Em resumo, a solidão e o desespero podem levar as pessoas a belos lugares.

Como você conseguiu convencer a atriz  para interpretar um papel, em que ela sofre tanta violência?

JF: Eu falei que eu tinha um papel ótimo para ela. Falando sério, Nina Ljeti é uma pessoa que eu conheci na NYU (Universidade de Nova York), e é uma amiga muito chegada. Eu precisava de alguém em que eu pudesse confiar e eu confiava nela, já havíamos feito alguns projetos antes.

Esse é mais um filme com um tema recorrente em sua carreira?

JF: Este filme  segue  realmente a linha do que já fiz antes. Mas não é, como muitos falaram, um alinhamento meu com o personagem, mas sim uma forma de falar de circunstâncias, que não fazem parte da minha vida como a solidão e a incapacidade de se socializar. Para mim, isso é fascinante e é uma maneira de fazer o que os filmes deveriam fazer sempre:  falar sobre a condição humana.

Como encontra tempo para fazer tanta coisa, entre outras, frequentar aulas, atuar, dirigir. Você fica  sem dormir ou sem tirar férias?

JF: Dormir, eu durmo, mas é verdade que não tiro férias. Eu realmente não preciso de férias porque isso aqui é uma espécie de férias. Eu gosto de festivais de cinema, de  mostrar  meus filmes e ver filmes. E não preciso de um período de férias no sentido tradicional, como eu faria se eu tivesse um emprego que odiasse. Quando eu estou trabalhando em um projeto como este, eu tenho todos que eu amo perto de mim, então eu não preciso de uma pausa.